MARCUS VINICIUS BARACHO DE SOUSA
Estava uma tarde bonita em São Paulo, quando recebi a determinação de buscar uma autoridade para levá-la até o setor leste da cidade, a fim de participar de eventos públicos naquele local.
Qual seria o problema, além de ter assumido como comandante de aeronave poucos dias antes, eu iria naquela missão sem copiloto e teria que resolver tudo sozinho. Fui até o pátio e verifiquei as condições da aeronave que iria ser utilizada na missão, apenas mais uma missão com autoridade, já tinha feito algumas e conhecia bem a cidade.
O pessoal de manutenção verificou as condições de limpeza da aeronave, e lá colocaram uma geladeira pequena, com alguns refrigerantes e água…tudo normal até aqui. Agradeci ao mecânico e iniciei o acionamento, solicitando dos Órgãos de controle as autorizações para taxi e decolagem. Logo me vi fora do solo e totalmente “solo”, era eu e o helicóptero, silêncio completo!
Segui para o destino previsto e chegando em aproximação para o pouso, a autoridade já estava aguardando para o embarque. Muito rápido entraram autoridade e sua comitiva, lotando a capacidade da aeronave, portas fechadas…tudo pronto lá vamos nós para o segundo ponto de pouso.
Estando em voo o auxiliar, secretário, ajudante (tanto faz), pegou o fone e começou a conversar comigo, perguntar sobre as condições do vento, peculiaridades do helicóptero…e eu querendo me concentrar no voo e em tudo que tinha a gerenciar para que aquela missão fosse bem sucedida. Falou também sobre a necessidade de ser rápido para cumprir a agenda da autoridade, tentando me apressar. Chovia muito e a visibilidade já não era tão boa, mais um fator para preocupar.
Durante o voo a autoridade sentiu sede, abrindo a geladeira e pegando uma lata de refrigerante. Tudo normal, que mal há? Repentinamente o auxiliar me chama no fone e alerta: “…comandante, temos um problema!”, “…qual?”, “ autoridade tomou um refrigerante!”, “….e daí! Ele tá passando mal?”. Já pensei que teria uma mudança de planos e seguiria para algum hospital.
O auxiliar muito espantado por eu não entender o problema disse: “…ele (autoridade) colocou a lata de refrigerante, ainda cheia, no piso da aeronave…então o Sr deverá tomar cuidado para não derrubar!”.
Não acreditei que o problema era tão simples e apresentei como solução que o auxiliar pegasse a lata de refrigerante e a colocasse de volta na geladeira portátil. Recebi como resposta: “…de jeito nenhum! Se eu colocar a mão nessa lata ele me demite! E se o Sr derrubar no pé dele…nem sei o que vai acontecer!” Respondi: “…tá brincando né!”, “…comandante, queria estar brincando, mas é sério.”.
Bem…em voo não é hora de discutir, segui em frente, na chuva, com ventos fortes e a Sra lata de refri…balançava, balançava….mas não caia. Ouvi alguns “cuidado..quase foi!” do auxiliar, mas não passou disso.
Aproximei em um pátio de escola na região leste da cidade de São Paulo, momento mais crítico, com algumas “sacolejadas “ e a lata não virou. Antes de desembarcar o auxiliar veio me parabenizar dizendo que não acreditava na possibilidade daquela lata permanecer em pé, elogiou muito o voo e afirmou que se sentiu muito seguro.
Parece história de pescador, mas é de piloto mesmo! bons voos!