Campo Grande (MS) – “Não tenho rotina de trabalho. Tem dia que saio às três horas e só volto em três dias”, diz, sorridente, a capitão Katiane Almeida de Oliveira, de 30 anos. Ela é a única piloto na área de aviação de segurança do Estado de Mato Grosso do Sul e há pelo menos três anos atua na Coordenadoria Geral de Patrulhamento Aéreo (CGPA).
Katiane Almeida representa milhares de mulheres que batalham pelo que querem sem medo e com determinação. “Entrei na Polícia Militar com 18 anos e minha formação é de oficial de polícia. Dentro da instituição recebi um convite para fazer um curso de formação para piloto e resolvi tentar. Fiz o curso teórico de seis meses e 40 horas de aulas práticas. Hoje tenho a carteira de piloto comercial”, conta.
A capitão pilota monomotores, bimotores e os bandeirantes pertencentes ao governo do Estado. Quando questionada se já sentiu medo de pilotar, ela responde com tranquilidade: “medo nunca senti, mas ansiedade só no primeiro voo de solo que é quando estamos sendo avaliados. Já no meu primeiro voo de missão estava confiante e precisava provar para eles que eu sabia pilotar. Quando a missão terminou tive um sentimento que se resume na palavra: alcancei”, ressaltou. Ela estava se referindo aos objetivos que foram alcançados.
O trabalho de Katiane é de atender as diversas secretarias do governo do Estado e de resgate. “Fazemos voos de resgate para pegar um doente, de missões como na região do Pantanal e de atendimento às secretarias. Ano passado, por exemplo, levamos equipes de bombeiros para atuar num incêndio na Serra do Amolar, em Corumbá”, explicou.
Em meio a um painel cheio de botões e alavancas nos monomotores e bimotores que pilota, um item não pode faltar no dia-a-dia da piloto. “Pode faltar tudo na minha bolsa, menos o protetor solar”, brinca. Katiane conta que os colegas de trabalho, a maioria homens, brincam com ela quando “retoca” o protetor solar no rosto. “Depois eles acabam me pedindo um pouquinho”, sorri.
Katiane divide as tarefas de profissional da segurança do Estado com a família. “Faço as duas coisas com amor”, referindo-se ao trabalho e ao dom de ser mãe de uma filha de dois anos. A piloto conta que a ausência em casa um dia vai dar retorno para a filha. “Essa ausência vai trazer orgulho para minha filha e faço tudo que posso por ela. Hoje quando ela vê um avião, ela diz: mamãe olha você lá”, diz emocionada.
A piloto é filha e irmã de militar e diz que sempre contou com o apoio da família para atuar na profissão. “Sinto que meu pai se realiza em me ver onde estou. Minha mãe, preocupada, às vezes me liga e pergunta: minha filha hoje está chovendo. Você não vai voar, né?”, lembra sorridente.
Quanto ao cargo que é quase 100% ocupado por homens, ela fala que não enfrentou preconceito, mas teve todo o apoio necessário para atuar na profissão. “Adoro o que faço e tive todo o apoio e incentivo para chegar onde estou. Se estou aqui é porque todos acreditaram no meu trabalho”, afirma.
No mês de mulher, a piloto faz questão de ressaltar que as mulheres têm conquistado espaço em todas as áreas. “As pioneiras já abriram as portas e temos que dar continuidade às conquistas. Precisamos ter objetivos, ter firmeza nos propósitos. A gente alcança o que verdadeiramente queremos”, argumenta.
Durante a entrevista, o comandante da CGPA, o Coronel José Tadeu Sampaio Vieira, não poupou elogios à piloto. “Para nós da aviação, esta piloto formada aqui mesmo no Estado é orgulho. Vemos a dedicação com superação de paradigmas. Ela pode ser uma futura comandante e tem bagagem para isso. Capacidade ela tem, só depende dela”, elogiou.
Em breve, a CGPA vai contar com a atuação de quatro comissárias de bordo que são profissionais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Elas já estão lotadas na Coordenadoria e estão concluindo o curso de formação de comissário de bordo.