Douglas Ferrari
Balões iniciam transporte de feridos
Na mitologia grega Ícaro ganha asas e estabelece o sonho do homem em voar. Em 21 de novembro de 1783 Pilatre de Rozier and the Marques d’ Arlandes após experimento com balão de setembro de 1783 com animas realizado por Montgolfier, fizeram o primeiro vôo na altitude de 3000 pés por 20 minutos e percorrendo distância de 8 km na França. Iniciava importante passo onde a conquista do céu, na liberdade de voar, projetava a humanidade sobrepondo seus limites.
Em 24 de setembro de 1852 Henri Giffard acopla motor de 3 HP na velocidade de 27 km/hora do hipódromo de Paris a cidade, iniciando a era dos dirigíveis.
A fisiologia da altitude era desconhecida e logo viriam os sintomas das baixas pressões atmosféricas. A necessidade do transporte militar e feridos foi surgindo, onde na guerra Franco Prussiana em 1855 foi amplamente utilizada a remoção e resgate Aeromédico.
Feridos eram transportados de forma rudimentar para Hospitais de campanha, já se observando as vantagens ganhas em tempo e segurança, porém eram transportes realizados com ausência ou limitações de profissionais de saúde, principalmente médicos.
Paul Bert: Médico Fisiologista e “Pai da Fisiologia da Altitude”
O primeiro médico fisiologista dedicado a fisiologia da altitude foi Paul Bert, que através de câmara hipobárica, analisou os efeitos da baixa pressão em humanos e animais sobretudo no sistema Respiratório e Cardiovascular.
Bert demonstrou que o homem não estava adaptado ao ambiente aéreo e estava sujeito a hipóxia, hipotermia, mal estar intermitente e efeitos deletérios do oxigeno e nitrogênio. Mas a aviação foi desenvolvendo e dezembro de 1903, Orville e Wilbur Wright, os irmãos Wright, fazem o primeiro voo controlado de um avião “com motor”, percorrendo 852 pés com o modelo Flyer nos EUA, porém Santos Dumont efetua em outubro de 1906 o primeiro voo homologado da história no avião 14 BIS de 50 CV, estaria definitivamente inventado o avião.
As aeronaves evoluíam, porém os limites da biologia humana impunham estudos, 90% das mortes dos pilotos eram atribuídas a despreparo e consequência da fisiologia do voo. Surgia a Medicina Aeroespacial objetivando o estudo da fisiologia do voo, contribuindo nos equipamentos e roupas para pilotos e tripulações.
Na I Guerra Mundial iniciava os primeiros modelos de aeronaves para transporte aeromédico. Eram rudimentares, despressurizadas, com sistema de rede de oxigênio suplementar, em monomotores de velocidade média de 150 km/hora e os feridos encontravam-se em compartimentos a frente do piloto. Já no contexto da Guerra Franco-Prussiana, Henri Dunan inconformado com a crueldade da guerra cria a Cruz Vermelha internacional.
Cruz Vermelha Internacional e equipe de saúde
Conferência de Genebra na Suíça que entre muitas medidas estabelece que a equipe de saúde em seus capacetes e braceletes, ambulâncias e aeronaves receberiam o símbolo oficial da Cruz em tom avermelhado para identificação do atendimento e transporte de feridos.
Após a I Guerra, o sistema de remoção aérea foi desenvolvendo porém com limitações de custos e pessoal treinado. Aeronaves amplas com médicos e enfermeiros, maior conhecimento da fisiologia do voo e aeroportos homologados, já permitiam o transporte mais adequado e rápido.
A II Grande Guerra novamente impulsiona a necessidade de transporte rápido de feridos, alemães e americanos adaptam aeronaves militares de transporte para “ambulâncias aéreas” com macas apropriadas, sistema de aspiração e oxigênio, equipamentos de ventilação não invasiva com máscaras, medicações e com presença dos profissionais de saúde para atendimento. O transporte aéreo organizado para Hospitais militares de retaguarda permitia ampliar a remoção de vários pacientes ao mesmo tempo em aviões amplos como o americano DC – Douglas.
O Helicóptero
Em 1907, Loius Breget elabora a teoria da asa rotativa, entre vários experimentos somente em 1935 finaliza o protótipo com rotor duplo, porém a concepção atual dada ao helicóptero com rotor central e de cauda foi elaborada em 1939 através Igor Sikorsky, o modelo VS 300 voou 1 hora, 32 minutos e 26 segundos.
O helicóptero, do grego Helix ( helicóide) e Pteron (asa) , logo estaria inserido como aeronave de transporte aeromédico em virtude da sua configuração versátil, não necessitando de pistas e efetuando pouso vertical.
Os primeiros aparelhos equipados para resgate de feridos já surgiram na II Guerra, porém foi na Guerra da Coréia em 1955 que sua utilização foi empregada onde helicópteros de pequeno porte monopilotado apresentavam macas fechadas no esqui protetor.
O transporte era rudimentar, em baixa altitude, sem equipe de vigilância durante o voo e já demonstrava a necessidade do piloto em conhecer procedimentos básicos de primeiros atendimento.
Em 1962 a Guerra do Vietnam inicia, em terreno acidentado, floresta fechada e graves epidemias, tornou o helicóptero a melhor opção para deslocamento militar e de feridos. O mais utilizado foi H1, em geral com dois pilotos, contava com maca interna, equipe de auxiliar ou enfermeiro e médico para sobretudo efetuar resgate de feridos em missões com pouca segurança e sujeita a artilharia inimiga.
A Guerra do Vietnã demonstrou a necessidade de treinamento para equipes de saúde específicas, dando início a era da asa rotativa e UTI aéreas. Já nessa época, o médico e engenheiro aeronauta Forrest Bird inventa o mais importante ventilador pulmonar invasivo pressórico designado BIRD Mark7 para utilização em UTIs militares e aeronaves de resgate.
Apogeu da Remoção Aérea
Na década de 80 inicia o apogeu do transporte aeromédico. Aeronaves rápidas como jatos, tornaram-se verdadeiras UTIs Aéreas, com ventiladores pulmonares específicos, desfibriladores, Bombas de Infusão apropriadas, medicações, monitores cardíacos e principalmente equipe aeromédica treinada. Velocidades de 27 km/hora alcançam 900 km/hora, em cabines pressurizadas, ambiente confortável para paciente e equipe, com normas internacionais rígidas, proporcionando rapidez e segurança.
Novos desafios virão. A medicina não tem fronteiras. Infelizmente o transporte aeromédico ainda serve parcela da população, seja por motivos culturais, financeiros ou mesmo centros avançados que dispensam a necessidade do transporte aéreo. Custos como da aeronave, hangaragem, manutenção, combustível, seguro, equipe treinada, equipamentos médicos dificultam a ampliação da utilização deste fundamental recurso destinado ao paciente grave.
Cabe agora ao ser humano trazer a tecnologia para seu bem estar, trazer os avanços da ciência da engenharia e da medicina para seu próprio uso, transformar e democratizar conquistas humanas para o bem, sem dúvida o transporte aeromédico reflete esta filosofia, da superação em salvar vidas humanas que não possui preço.
Fonte: www.medicinaintensivista.com.br
Autor: Douglas Ferrari, Médico Intensivista, professor universitário, Mestre e Doutor em Terapia Intensiva. Idealiza o conceito interdisciplinar e amplo no tratamento do paciente crítico. Dedica-se integralmente a publicações científicas e a especialidade. Educador, coordena os Centros Formadores de Especialistas em Terapia Intensiva. É Presidente-Fundador da SOBRATI, editor da Revista Intensiva, Presidente do IBRATI ( Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva ).