As situações são extremas: estados de calamidade, tragédias, resgate no meio da mata, perseguição policial. Para o Pelicano, helicóptero do Serviço Aerotático (SAT), do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic), não há barreiras.
O nome não é por acaso: os pelicanos são aves conhecidas por defenderem os filhotes com a própria vida, caso necessário. Em 14 de agosto, a unidade completou 27 anos nos céus de São Paulo, aliando tradição e tecnologia e se destacando no cenário nacional quando o assunto é serviço aéreo de segurança.
Preparado para todos os tipos de operações, os helicópteros chegam a áreas isoladas e, em muitos casos, sua atuação é crucial para um desfecho de uma ocorrência policial. O SAT dá apoio às operações da Polícia Civil, auxiliando as equipes terrestres.
Quando a unidade foi criada, o cenário era diferente: os roubos a banco preocupavam a sociedade e a polícia, as viaturas de quatro rodas levavam algum tempo para chegar até o local do crime.
Diante da necessidade de chegar rapidamente à cena do crime, o governo comprou dois helicópteros, um para a Polícia Civil e outro para a Polícia Militar. O helicóptero, além de inibir os criminosos, dá a sensação de segurança para os policiais.
A sociedade mudou e outros crimes passaram a incomodar, como o seqüestro. O SAT acompanhou essa transição e prestou apoio às unidades da Polícia Civil para a resolução das ações criminosas. Hoje, com os índices criminais em queda, os pelicanos têm se destacado na atuação humanitária.
Desde a sua criação até julho de 2011, as aeronaves do SAT apoiaram 3.608 perseguições, buscas e cercos. A unidade realizou 2.575 ações de instruções e treinamento de tripulação de policiais. Foram 1.706 operações em roubos a bancos, condomínios, empresas e residenciais.
Os helicópteros da Polícia Civil já encontraram 690 cativeiros e 1.804 locais de crime, localizaram 339 veículos, realizaram 277 escoltas de presos, fugas e intervenções em rebeliões, além dos 317 transportes de órgãos para doação. Foram 11.783 horas de vôo.
A unidade tem 23 homens, sendo 9 pilotos, 13 tripulantes e um policial que atua na área administrativa.
Tradição
A história de um dos serviços aéreos de segurança mais importante do país se entrelaça com a vida de Roberto Bayerlein, delegado responsável pela unidade, que se dedica ao SAT desde a sua criação. Com mais de 5 mil horas de vôos, o que não faltam são histórias para contar, mas foi o gesto singelo de uma garota que se tornou o mais marcante em quase 30 anos de carreira.
Há 15 anos, a região do Vale do Ribeira, no sul do estado, tinha sido devastada por uma enchente. Durante uma pausa nas operações de resgate, Bayerlein foi surpreendido por uma garota de 12 anos. “Ela se aproximou de mim, entregou uma flor e agradeceu pelo que eu estava fazendo, por estar ajudando a salvar vidas”. O delegado carrega a flor para todos os lugares até hoje, guardada em sua carteira.
O caso não é exclusivo. As missões humanitárias são tão freqüentes no dia a dia dos pilotos e tripulantes quanto as operações de apoio à Polícia Civil. Os pelicanos encurtam a distância e levam rapidamente órgãos de transplantes para pessoas que não podem esperar. A Polícia Civil possui diversos convênios, como o do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB).
A dedicação e o amor à profissão também têm os seus riscos. Os pilotos e tripulantes acabam arriscando a própria vida em defesa da sociedade. Um acidente em julho de 2001 matou os delegados Otávio Marcos Corrêa Viola Troviglio e José Maurício de Aguiar Cerciari e o investigador José Osório de Arruda Campos Rodrigues. O agente Marco Aurélio de Toledo ficou ferido gravemente e conseguiu sobreviver.
A equipe estava perseguindo um veículo na Rodovia Fernão Dias. Em uma paralela da estrada, o veículo parou e o helicóptero pousou na pista. Os policiais foram surpreendidos por tiros e tiveram que voltar rapidamente para a aeronave. No momento da decolagem, a aeronave encostou-se nos fios de alta tensão e acabou caindo em uma vala.
10 dias de solidariedade
Novembro de 2008. Santa Catarina sofre com fortes chuvas. Sessenta municípios são atingidos e 14 cidades decretam estado de calamidade pública. Mais de 1,5 milhão de pessoas são afetadas. Foi um caos em que pelo menos 135 pessoas perderam a vida, uma das maiores catástrofes daquele estado. Vieram doações e ajuda humanitária de diversos lugares. São Paulo foi um dos que se solidarizaram com a comunidade catarinense.
O SAT foi para lá, enviado pelo governo paulista, para ajudar nas buscas, resgates e no transporte de mantimentos e medicamentos. O delegado e piloto Fábio Coan Sampaio fez parte da equipe. “Foi um cenário de destruição. Foram várias situações e operações realizadas em um curto espaço de tempo. Por dia, chegamos a operar em oito, nove missões, como transporte de pessoas, de medicamentos, equipamentos”, lembrou.
Os helicópteros foram o principal meio de transporte, uma vez que as estradas haviam sido destruídas. Equipes médicas foram transportadas pelo ar para locais de difícil acesso. “Foi uma operação que me engrandeceu. Cresci como pessoa”, disse Sampaio, que tem mais de 20 anos de SAT.
Tecnologia no combate ao crime
A última aquisição do SAT, um helicóptero esquilo, que chegou em 2008, é uma das únicas aeronaves do país blindada que resiste a tiros de fuzil. A estrutura tecnológica impressiona. O motor é mais potente que o dos modelos anteriores, a transmissão mais resistente, além de equipamentos eletrônicos modernos que auxiliam na navegação e nas operações policiais.
A aeronave possui o sistema de “moving map”, um pequeno computador de bordo que fornece dados, mapas e cartas de rota. O SAT-5, como é chamado o helicóptero, tem equipamentos que podem ser usados em resgate, como um guincho para transporte de pessoas e objetos, um gancho para a captura de materiais, um cesto e farol de busca para a localização durante a noite. O modelo, que custou US$ 3,1 milhões, comporta seis tripulantes.
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Fonte: Secretaria de Segurança Pública, por Elson Natário.
Fotos: Adriano Moneta.