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ADRIANI JOSÉ DE SOUZA

INTRODUÇÃO

Trataremos na segunda parte deste artigo sobre outro gênero de equipamentos metálicos, os DESCENSORES METÁLICOS, os quais se apresentam como fundamentais para a execução de uma técnica de descida por cordas, das mais treinadas pelas equipes de salvamento em altura na Aviação de Segurança Pública – o Rapel.

Devido às características da região em que cada equipe está situada, a demanda de salvamento pode exigir treinamento em número e qualidade acima do rotineiro. Por isso, é fundamental que os profissionais estejam abertos e habituados às novas técnicas de descida, com a utilização de novos equipamentos, que facilitem a operação e a tornem mais segura. Vale sempre lembrar que o cenário dessas operações exige sempre muita destreza e conhecimento dos riscos envolvidos.

Apresentamos a seguir os principais DESCENSORES METÁLICOS utilizados, tanto por profissionais da área esportiva, como da área de salvamento em altura:

OITO

Também chamado de Freio Oito, trata-se de um dos mais antigos e conhecidos mecanismos de frenagem. É um freio bastante difundido durante a formação de bombeiros militares e corporações especializadas. Sua função, como a de qualquer modo de frenagem, é diminuir o esforço que se faz ao descer pela corda. Isso é feito devido ao atrito que a corda faz com os orifícios (olhais) do oito.

Pode ser confeccionado em aço, alumínio ou duralumínio, além de possuir uma variedade muito grande de formatos e cores. Os mais usuais são o convencional e o de salvamento (com orelhas). Comparando-se os dois verificamos que o oito com orelhas tem melhor dissipação de calor, e suas orelhas não permitem a formação do nó “boca de lobo”, muito temido durante um rapel. Alguns modelos de oito com orelhas tem um orifício (ou olhal) central que permite que uma vítima seja conectada ao equipamento com segurança.

A técnica de passar a corda pelo equipamento é simples:

Vantagens: É um descensor muito versátil, de baixo custo, de uso simples e bastante durável.  Desvantagens: Provoca torções excessivas na corda, dissipa mal o calor provocado pelo atrito, não permite a graduação do atrito, e sua instalação na corda exige que seja desconectado (ou desclipado), momentaneamente, do mosquetão.

Cuidados: Por se tratar de um equipamento metálico é necessário que sejam observados todos os cuidados citados em nosso último artigo. Contudo a inspeção visual minuciosa e diária é obrigatória, visto que, após várias descidas podem ocorrer desgastes visíveis na pintura e nas paredes do oito de duralumínio e de alumínio, os quais podem condenar a sua utilização. Não há como definir a sua vida útil, no entanto, é necessário que o profissional tenha controle de tempo de utilização. Por isso orientamos a substituição após 05 (cinco) anos de uso constante, ou, quando verificado o desgaste excessivo em suas paredes.

Por ter várias desvantagens, há uma tendência em outros países de que seja progressivamente abandonado. No entanto, no Brasil é intensamente utilizado. No meio esportivo indica-se que o freio Oito seja utilizado para descidas não superiores a 25 metros em função das torções na corda, muito embora, sabemos que as equipes de salvamento realizam rapel, com o freio oito, em altura muito superior, justamente pela falta de cultura de utilização de equipamentos alternativos.

STOP / DRESLER

O dresler é um descensor autoblocante mais complexo, concebido originalmente para atividades de espeleologia. É composto por duas polias onde passa a corda sem ser torcida. Seu sistema de freio exige menos força de seu operador e pode ser travado com muita facilidade.

São vários os modelos e fabricantes. Há um modelo conhecido como STOP, o qual possui uma alavanca vermelha, onde o operador pressiona para descer e basta soltar a alavanca para que o mecanismo trave, cessando assim a descida. É importante salientar que a parada do STOP pode não ser imediata, podendo haver um ligeiro deslizamento, em função de alguns fatores como o diâmetro da corda e os desgastes do próprio mecanismo.

É um excelente equipamento que pode ser utilizado no lugar do oito, pois sua grande vantagem é a de diminuir os danos na corda, já que não provoca torções, além de liberar as duas mãos do operador após o travamento do mecanismo.

Normalmente é utilizado para descidas mais rápidas devido ao seu desenho, pois não torce, nem esquenta a corda. Indica-se para cordas com diâmetro entre 9 e 12 milímetros. Sua vida útil depende diretamente das condições e do ambiente em que é empregado. Sugerimos a sua substituição após 05 (cinco) anos de uso ou de armazenamento. Seus cuidados são os mesmos citados anteriormente para os demais equipamentos metálicos.

No meio esportivo utiliza-se o STOP para descidas entre 50 e 100 metros de altura. Possui certificação européia: CE – EN 341 Classe “A”.

RACK

Também conhecido como “freio de barras” é um descensor linear metálico com duas longas barras transversais e com 4 ou 5 barretes móveis em alumínio maciço ou aço inox, onde o atrito com a corda é feito através dos diversos “degraus da escadinha” do rack. Muito utilizado para atividades de espeleologia e em grandes abismos. Vários são os fabricantes e modelos.

Sua principal vantagem é de não torcer a corda, não necessitar ser desclipado da ancoragem para a passagem da corda, dissipando melhor o calor e permitindo a graduação do atrito da corda ao freio durante sua utilização (à medida que são aumentados ou diminuídos os barretes), ou seja, suas barras podem ser removidas ou adicionadas mesmo em plena utilização, a fim de aumentar ou diminuir o atrito.

Sua desvantagem é a de não liberar as mãos do operador para outras tarefas durante o salvamento, além de possuir um custo elevado. Mas trata-se de um equipamento moderno que é indicado para descidas acima de 100 metros de altura. Indica-se a sua utilização para cordas entre 9 e 13 milímetros.

ID

O ID é um descensor ou aparelho de segurança autoblocante para corda simples, para descer em corda e dar segurança a uma pessoa, com função antipânico.

O seu sistema autoblocante é formado pelo princípio mecânico de “came pivotante”, que aperta a corda e trava o utilizador se a alavanca do aparelho não for acionada. Possui também uma alavanca antipânico: blocagem do I’D® se o usuário aciona com força a alavanca.

Possui uma placa móvel com pastilha de segurança,  oferecendo as seguintes vantagens:

– risco de perda do aparelho limitado,
– instalação rápida da corda no aparelho,
– eficácia durante a passagem de fracionamentos,
– mordente antierro, para evitar um acidente devido a uma má montagem da corda no aparelho.

Sua desvantagem é o custo elevado.

Para uma utilização confortável do ID, durante uma descida, deve-se acionar simplesmente a alavanca, e o ajuste da velocidade de descida se faz apertando, mais ou menos, a ponta livre da corda com a mão.

O modelo D20L é indicado para cordas entre 11,5 e 13 milímetros.

GRIGRI

É um descensor utilizado basicamente na área esportiva, que automaticamente freia uma queda, através de um sistema de alavancas, em seu interior. O aparelho é clipado à cadeirinha através do mosquetão, e a corda é passada por dentro do aparelho, se quiser descer basta pressionar a alavanca do grigri, se você soltar a alavanca o dispositivo automaticamente trava o sistema e você não desce, é muito interessante para o caso de se querer parar na descida para tirar fotos ou curtir o visual.

Sua utilização é exclusiva para cordas de diâmetro entre 10 a 11 milímetros. É fabricado na França pela PETZL e tem certificação europeia CE.

ATC (Air Traffic Control)

É um descensor multiuso bastante utilizado também na área esportiva, que serve para rapel e segurança em escaladas. Exige cordas dinâmicas entre 10 e 11 milímetros. Os tipos mais conhecidos são o ATC original, conhecido como ATC; o ATC XP que possui um desenho diferente, com “dentes” que aumentam o poder de frenagem e o ATC GUIDE que, além dos dentes, possui um anel metálico usado para fazer ancoragens nas paradas.

Ideal para descidas de até 50 metros de altura. Trabalha como as placas e como os tubos Lowe, quando uma laçada da corda é enfiada pelo equipamento e clipada ao mosquetão, sendo a segurança dada pela quantidade de atrito com a corda que é criada por esse sistema. Custa um pouco mais que o oito, mas tem a vantagem de diminuir a torção da corda, podendo prolongar a vida útil desta.

Para fazer o transpasse do ATC, em primeiro lugar, deve-se dobrar a corda e fazer uma ponta dupla de aproximadamente 20 cm; em seguida deve-se passar a ponta dupla por um dos olhos do ATC; prender a alça do ATC juntamente com a alça da corda do mosquetão e por último trava-se o mosquetão.

PLACA STICHT

É outro mecanismo de frenagem utilizado na área esportiva para cordas dinâmicas com diâmetro entre 8 e 11 milímetros. Possui 1 ou 2 aberturas por onde a laçada da corda é passada, e esta fica presa ao mosquetão. Pode possuir uma mola, que tem a função de manter a placa a certa distância do mosquetão. Pode ser usado no rapel, mas o seu uso inicial foi para dar segurança nas escaladas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar este artigo é importante salientar que todos os profissionais de salvamento devem estar prontos para as mudanças, com a utilização de novos equipamentos e técnicas mais seguras. A busca pelo conhecimento e as pesquisas devem fazer parte da rotina de treinamentos.

Fato notório nas atividades esportivas, onde escaladores e demais montanhistas profissionais tornam-se fonte de informações preciosas ao nosso convívio. Não devemos ignorá-los, pois várias técnicas utilizadas atualmente vieram do meio esportivo. Sempre há um meio mais seguro e simples de se executar uma descida pela corda.

Reflita…

Bons voos e boas escaladas!!

Referências:

– MAS – Manual de Salvamento em Altura;
– MTB 26 – Manuais Técnicos do Corpo de  Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo;
– Catálogo Petzl;
– Catálogo Black Diamond;
www.gp.pro.br (Grupo Petrus);
– Catálogo Camp;
– Catálogo Kailash, e
– Catálogo Kong.

O autor é comandante de aeronave do GRPAe/SP e especialista em salvamento em altura.

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