Eduardo Alexandre Beni
Coronel PMESP e Editor
De fundamental importância, especialmente em situações de urgências e emergências médicas, atualmente a atividade de resgate aéreo por meio de helicóptero é um serviço consolidado em muitos lugares do mundo.
Essas aeronaves de asas rotativas foram desenvolvidos e construídos durante a primeira metade de século XX, com alguma produção e alcance limitado, mas foi só em 1942 que o Sikorsky R-4, um helicóptero projetado por Igor Sikorsky atingiu a produção em larga escala, com 131 aeronaves construídas. Na Guerra da Coreia o Sikorsky H-5/HO3S-1 ganhou sua maior fama.
Em 1946, foi lançada a produção do Bell 47B, que atingia uma velocidade de 140km/h, com duas pessoas a bordo e também foi empregado pelas Forças Armadas dos Estados Unidos na Guerra da Coreia como H-13 Sioux. Dai para frente os helicópteros iniciaram uma trajetória de especialização e desenvolvimento nas operações de resgate aéreo.
O emprego sistemático e decisivo de helicópteros em resgates começou exatamente durante Guerra da Coreia (1950-1953). Nesse conflito houve pela primeira vez o uso de helicópteros de forma organizada. O propósito do governo americano era, de fato, conseguir salvar o maior número possível de combatentes feridos no campo de batalha.
Segundo o historiador Lynn Montross, durante os primeiros 12 meses de operação em 1951, helicópteros do Exército transportaram 5.040 feridos. Em meados de 1953, apesar das deficiências dos primeiros helicópteros, foram evacuadas 1.273 vítimas em um único mês.
Na época, constataram que o principal problema clínico era a hemorragia por arma de fogo, evento que o sistema de saúde que estava em campo não era capaz de responder. Assim, os EUA entenderam que para evitar complicações e mortes, uma intervenção cirúrgica imediata era necessária.
As salas cirúrgicas das unidades do MASH (Mobile Army Surgical Hospital), com médicos e enfermeiros, tinham que ser alcançáveis em um curto espaço de tempo, onde estavam os combatentes feridos. Já nesses tempos de guerra se sabia que o transporte de plasma sanguíneo também era muito importante para salvar soldados feridos. Isso só pôde acontecer graças ao uso dos helicópteros.
Assim, o primeiro resgate de helicóptero ocorreu durante o conflito coreano, onde as enfermeiras puderam cuidar da reposição volêmica por meio de gotejamento, e depois disso confiavam a vítima ao piloto e ao engenheiro de voo que realizavam o transporte para a unidade cirúrgica atrás das linhas de combate.
Primeiros testes, antes da Guerra da Coreia
Mas não foi na Coreia a primeira vez que aeronaves de asas rotativas foram usadas em combate. Os fuzileiros navais haviam testado e rejeitado o autogiro Pitcairn OP-1, uma aeronave híbrida com rotor de quatro pás, para missões de ligação e evacuação aeromédica em 1932, enquanto lutavam contra guerrilheiros na Nicarágua.
O Exército comprou seu primeiro helicóptero, um Vought-Sikorsky XR-4, em 10 de janeiro de 1941, e operou alguns modelos aprimorados dessa aeronave na Europa e na Ásia durante os estágios posteriores da Segunda Guerra Mundial.
O primeiro registro de uso de um helicóptero americano em combate ocorreu em maio de 1944, quando um helicóptero do Exército resgatou quatro aviadores abatidos atrás das linhas inimigas na Birmânia.
Evolução do emprego do helicóptero durante a Guerra
Conforme as funções dos helicópteros se diversificaram, suas tripulações implementaram uma variedade de modificações de campo durante a Guerra da Coreia. Quando solicitados a embarcar vítimas na retaguarda, os fuzileiros navais descobriram que uma maca não caberia dentro da pequena cabine do HO3S.
Então, eles removeram o vidro traseiro de um lado e colocaram a maca com o ferido, deixando seus pés expostos ao clima. Depois disso foram projetadas capsulas rígidas fixadas na parte externa do helicóptero, onde era colocada a vítima. Equipados apenas com os instrumentos mais básicos, os helicópteros não eram realmente certificados para voos noturnos. Mas com tantas vidas em jogo, os fuzileiros navais logo se viram evacuando as vítimas após o pôr-do-sol.
Os pilotos de outras forças também desafiaram a proibição de voos noturnos. No final, as tripulações de helicópteros conduziriam centenas de perigosas missões de evacuação aeromédica noturnas.
Durante os resgates no mar, os pilotos normalmente voavam com um tripulante que operava o guincho de resgate e frequentemente tinha que saltar na água gelada para ajudar os pilotos a se conectar no cabo.
Outro problema era o centro de gravidade dos helicópteros. Era tão sensível que os pilotos às vezes levavam barras de ferro, pedras pesadas ou botes salva-vidas para ajustar o equilíbrio quando não havia passageiros atrás.
No final de 1950, conforme o número de HO3Ss diminuía devido às perdas, o Esquadrão de Observação da Marinha (VMO-6) começou a transição para o Bell HTL-4s (H-13 Sioux). Os Bells podiam carregar duas vítimas em macas fixadas, uma em cada lado do helicóptero, o dobro do que poderia ser carregada por HO3Ss.
Depois da Guerra da Coreia
Após o conflito na Coreia, a ideia do resgate por meio de helicóptero evoluiu e a bordo, começou a ser empregada uma equipe de saúde especializada, com equipamentos médicos e insumos, tecnicamente mais avançados.
Por volta dos anos 60, os profissionais de saúde que voltavam da guerra pensaram em estender e estabelecer esse serviço para a população. Na Europa, a Holanda precisou do emprego de helicópteros após a grande tempestade de fevereiro de 1953, abrindo caminho para seu uso civil. A tempestade destruiu diques e centenas de vilas e cidades foram inundadas.
Nesse ínterim, a Suíça que permaneceu fora dos Conflitos Mundiais, desenvolveu o primeiro sistema de resgate aéreo eficiente, tanto que, em 21 de julho de 1931, o primeiro artigo importante sobre o tema apareceu no jornal “Neue Zurcher Zeitung”.
Em 27 de abril de 1952, a REGA (Swiss Air-Rescue Guard) foi fundada em Zurique, realizando inicialmente voos de resgate aéreo sobre geleiras, com lançamento de paraquedistas com seus cães.
Em 22 dezembro desse ano, o piloto Sepp Bauer realiza o primeiro resgate de helicóptero da REGA em Davos, usando um Hiller 360.
Em 1953 ela também participou dos resgates na Holanda. Uma aeronave especial da Swissair levou a equipe de resgate aéreo para a área do desastre. Com um helicóptero alugado, os pilotos e paraquedistas permanecem no Mar do Norte por três dias e três noites sem interrupção nas operações de resgate.
As primeiras experiências de resgate por helicóptero na Itália coincidem com situações de socorro em montanhas, com experiências pioneiras do Corpo de Bombeiros Provincial de Trento em 1957, de Sondrio em 1982 e de Aosta em 1983.
Desde então, o resgate por helicóptero, nascido no campo de batalha e depois desenvolvido no campo civil, tornou-se um meio fundamental para salvar inúmeras vidas no mundo.