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Até que enfim vão parar os sons de bombas”. A declaração de Karla Araújo Cardoso na chegada à Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos, resume a sensação de alívio dela e de outros 2.663 passageiros resgatados da zona de conflito no Oriente Médio pelo Governo Federal. Em 13 voos entre Beirute, no Líbano, e o Brasil, a Raízes do Cedro se consolidou como a maior operação de repatriação de brasileiros e familiares da história do país.

A ação do Governo Federal exigiu intensa costura. Na chegada ao Brasil, foi estabelecida uma força-tarefa de suporte com integrantes dos ministérios do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) da Saúde, da Justiça e Segurança Pública, além de entidades da sociedade civil. Envolveu também a atuação direta de servidores do Itamaraty na identificação, formalização e conferência de listas e facilitação de documentação para os resgates, o emprego de aeronaves e efetivo da Força Aérea Brasileira.

“O MDS tem equipe de receptivo que atua na base aérea de Guarulhos, com profissionais de diversos municípios que fizeram sua inscrição no FORSUAS e temos também uma parceria importante com a Organização Internacional para as Migrações (OIM)”, explicou Regis Spíndola, diretor do Departamento de Proteção Social Especial do MDS.  “Logo que as pessoas chegam, são recebidas por nossa equipe, que faz acolhimento de forma humanitária e humanizada para que cheguem em condições de segurança e acolhida adequada”, completou.

Maior operação de repatriação da história do Brasil resgata 2.663 pessoas no Líbano. Fotos: Fotos: Ricardo Stuckert / PR, Lyon Santos/MDS, Fotos: Rafael Nascimento/MS e MRE / Divulgação

Spíndola explica que todos os 2.663 passageiros foram atendidos diretamente pela pasta. “Fazemos triagem e encaminhamento monitorado”, lembrou. “Do total de repatriados, 56% já foram integrados a famílias e amigos e 32% foram acolhidos emergencialmente em hoteis”, acrescentou.

Em Guarulhos, os repatriados foram recepcionados por equipes multidisciplinares que ofereceram acolhimento humanitário, regularização migratória, avaliações médicas e assistência integral.

Em parceria com a Agência da ONU para as Migrações (OIM), por meio de um Acordo de Cooperação Técnica com o MDS, foi formada uma equipe para oferecer a assistência necessária. O MDS atuou no primeiro contato com a comunidade repatriada, identificando casos de vulnerabilidade

Além disso, a pasta disponibilizou, para aqueles que necessitavam de apoio com acomodação temporária, hospedagem e alimentação. Também foi realizada escuta com profissionais da política de assistência social e apoiadores para o encaminhamento de casos específicos. No total, 856 pessoas foram acolhidas temporariamente em rede hoteleira, com um investimento aproximado de R$ 193 mil.

Além disso, foi realizada escuta ativa para o encaminhamento de casos específicos. Para os deslocamentos internos, foram investidos mais de 42 mil reais, além do apoio da Polícia Rodoviária Federal no transporte da base aérea até o hotel.

O MDS também recebeu apoio da Latam na emissão de 83 passagens aéreas e a sociedade civil apoiou com a emissão de 92 passagens, via ônibus, para diversos municípios brasileiros.

Em articulação com a Secretaria de Desenvolvimento Social de São Paulo (SEDS-SP), Secretaria de Desenvolvimento do Espírito Santo (SEDES) e Comitê Especial de Atenção aos Repatriados e Migrantes do Líbano de Foz do Iguaçu (PR), houve apoio para acolhimento institucional de famílias que não tinham vínculos familiares e/ou não condições próprias. Além disso, o Governo do Paraná arcou com 106 passagens para municípios do estado.

Prioridades

Os critérios de prioridade levaram em conta brasileiros não residentes, depois os residentes e categorias estabelecidas por lei: idosos, mulheres, gestantes, crianças e pessoas com deficiência. No grupo de resgatados desde 2 de outubro, vieram 1.198 mulheres (15 gestantes), 645 crianças de até 12 anos, 247 pessoas com deficiência, 290 idosos, além de 34 animais domésticos.

Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores, além de 1.991 brasileiros, vieram nas aeronaves da Força Aérea Brasileira familiares de outras 13 nacionalidades: libaneses, sírios, paraguaios, argentinos, uruguaios, holandeses, venezuelanos, chilenos, colombianos, palestinos, franceses, peruanos e jordanianos.

“Espero que vocês encontrem no Brasil a felicidade que tiraram de vocês com esse bombardeio. E que possam reconstruir a vida em paz”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chegada do primeiro voo a Guarulhos, em 6 de outubro. “A guerra só destrói. Quando não perde a vida, perde escola, hospital, médico, uma série de coisas que trazem tranquilidade para a gente. O que constrói é a paz”, completou o presidente.

Ao todo, 4.064 pessoas foram alcançadas durante as articulações da operação via Ministério das Relações Exteriores, em especial a partir do trabalho Embaixada do Brasil em Beirute, no Líbano. Além das 2.663 que confirmaram presença e retornaram ao Brasil, houve 346 não comparecimentos ao aeroporto e 1.056 desistências do processo, muitos porque conseguiram meios particulares de voltar ao país ou de se deslocar para outras regiões.

“É uma operação de grande vulto. Maior do que foi a operação na Palestina, na Faixa de Gaza, em Israel no ano passado, quando 1.560 pessoas, aproximadamente, foram resgatadas”, ressaltou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em entrevista ao Bom Dia, Ministro.

Força Aérea

Em mais de 300 horas de voo, a Força Aérea Brasileira empregou 48 profissionais de saúde, entre 16 médicos, 15 psicólogos e 16 enfermeiros para garantir os atendimentos necessários ao longo dos voos de resgate.

Maior operação de repatriação da história do Brasil resgata 2.663 pessoas no Líbano. Foto: Rafael Nascimento / MS

“A gente dá um apoio à tripulação e aos passageiros, para mitigar efeitos desse estresse, de tudo aquilo que causa nas pessoas lidar com situações como essa”, disse a tenente Ingrid, psicóloga.

Os voos para o Líbano também levaram 27,3 toneladas de medicamentos e insumos hospitalares e 62,5 toneladas de alimentos. Foram empregadas duas aeronaves. Em 12 dos 13 voos de resgate, o KC-30. Em uma delas, o KC-390 Millennium.

Saúde

A Força Nacional do SUS realizou mais de 2,4 mil atendimentos a repatriados do Líbano. A equipe composta por 169 profissionais, incluindo médicos, enfermeiros, tradutores e psicólogos, promoveu 1.815 atendimentos psicossociais e 627 assistenciais.

No desembarque, informações sobre as condições físicas e emocionais dos passageiros eram compartilhadas por profissionais da Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo um atendimento rápido e direcionado. Casos mais comuns incluíram desidratação leve, picos hipertensivos e atendimentos psicológicos iniciais.

O time atuava com tendas para primeiros socorros, além de espaços como brinquedoteca e áreas de oração, respeitando aspectos culturais e religiosos dos repatriados. As equipes incluíam homens e mulheres, além de profissionais que dominavam árabe, francês, inglês e português. “Um acolhimento humanizado requer respeito à cultura e particularidades de cada pessoa, pilares do SUS, como equidade e integralidade”, afirmou Amanda Dantas, coordenadora da missão.

Para Rabiha Taha, uma das repatriadas, o atendimento foi acolhedor e trouxe segurança. “Eu andava com o coração na mão no Líbano. Medo e bomba para todo lado. Fiquei com a família dividida, mas precisava trazer minha mãe para junto dos meus irmãos. Recebi um atendimento respeitoso, carinhoso e acolhedor. Foi um alívio retornar”, declarou.

Maior operação de repatriação da história do Brasil resgata 2.663 pessoas no Líbano. Foto: Rafael Nascimento / MS

Controle Migratório

A atuação do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) teve como base o acolhimento humanitário e envolveu uma equipe multidisciplinar com profissionais da pasta, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Além dos órgãos de governo, agências da ONU – Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e Nações Unidas para as Migrações (OIM) – também atuaram junto às equipes, que seguem protocolos de recepção de pessoas em zona de conflito, inclusive com intérpretes.

Encaminhamentos

O Ministério da Justiça atuou no controle migratório e na identificação dos recém-chegados, com o suporte da PF e da PRF. As equipes entrevistaram os repatriados, identificaram necessidades e fizeram encaminhamentos necessários.

De acordo com a PF, foram 13 equipes, totalizando 112 funcionários mobilizados. A PRF ficou responsável pelo suporte logístico humanitário em traslados terrestres da Base Aérea até as residências das pessoas que moram em São Paulo ou eventuais abrigos temporários. Eles prestaram serviços como transporte de repatriados, batedores para escoltas de ônibus e forneceram veículos de transportes aos passageiros.

Flexibilidade para pets

O Ministério da Agricultura e Pecuária manteve a flexibilização de regras para entrada de cães e gatos acompanhando cidadãos repatriados e refugiados. As diretrizes facilitaram o ingresso dos animais no Brasil.

Com isso, as unidades da Vigilância Agropecuária Internacional, em conjunto com a Coordenação de Trânsito e Integração Nacional de Cargas e Passageiros, passaram a adotar protocolo especial para animais provenientes do Oriente Médio. O procedimento permite que tutores ingressem com os pets sem apresentação imediata de documentos sanitários exigidos em condições normais.

“Essa flexibilização é necessária para que a entrada dos animais acompanhe a urgência das situações humanitárias, preservando a saúde pública e o bem-estar animal”, explicou o coordenador-geral de Trânsito, Quarentena e Certificação Animal do ministério, Bruno Cotta.

Maior operação de repatriação da história do Brasil resgata 2.663 pessoas no Líbano. Foto: MRE / Divulgação

Voltando em paz

As ações de repatriação e recepção de brasileiros e familiares realizadas na Raízes do Cedro são similares às realizadas pelo Governo Federal em outubro de 2023, na Operação Voltando em Paz. Naquela ocasião, os voos de resgate trouxeram mais de 1.500 brasileiros e familiares, além de mais de 50 pets, das zonas de conflito na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Israel.

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