Matéria especial publicada pela revista Rotorhub sobre os bastidores e a operação da unidade aérea do Departamento de Polícia da cidade de Los Angeles, na Califórnia/EUA. Os números da unidade apresentados na reportagem são simplesmente impressionantes.
Em um ambiente econômico onde muitas unidades aéreas americanas estão deixando de voar, a Divisão de Suporte Aéreo do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD ASD) efetuou mais de 50.000 apoios aéreos só em 2010, tendo sido a primeira a chegar na ocorrência em mais de 16.000 dessas ocorrências.
“Com 19 helicópteros, nós voamos mais de 18.400 horas ano passado”, segundo Ten Philip Smith, da LAPD ASD.
A frota de 19 helicópteros da LAPD ASD compreende 14 AS350B2 e 5 Bell 206 Jet Ranger III, tendo ainda uma aeronave de asa fixa King Air.
A unidade é formada por 88 policiais de carreira e 12 civis. Nesse total estão incluídos 35 pilotos policiais, 10 sargentos e 3 tenentes.
A ASD opera em um heliponto elevado, no topo de um prédio, medindo 180×60 metros, o maior heliponto deste tipo nos Estados Unidos e quem sabe no mundo.
O grosso das atividades da ASD são as operações de patrulhamento regular, chamadas de ASTRO (Air Support To Regular Operations), que demandam mais de 90% das horas de voo.
“O foco é o apoio ao patrulhamento em terra”, explica Smith. “Logo, nós voamos obrigatoriamente 20 horas por dia – das 8:30 da manhã até as 04:30 da madrugada do dia seguinte. Durante este período nós temos duas aeronaves voando. Uma cobrindo a região de San Fernando Valley e outras entre a cidade e as regiões sul da cidade de Los Angeles. Sexta e sábado são os dias mais agitados, então operamos com três aeronaves”.
Para fazer a separação das aeronaves são usados os obstáculos naturais e outros pontos de referência da cidade. “Você pode ir dá área leste para a área oeste da cidade sem problemas, mas não pode cruzar a Rodovia de Santa Mônica sem comunicar-se com o outro helicóptero”.
Apesar de não ter nenhuma aeronave voando no período de 4:30 às 8:30 da manhã, a ASD mantém duas tripulações e duas aeronaves no pátio prontas para atender emergências.
“Neste horário, a demanda geralmente é pequena, normalmente com chamados 3 a 4 vezes por semana”, diz Smith, “contudo, por volta das 5:58 da manhã de um domingo de páscoa, alguém começou a efetuar disparos na cidade e nos chamaram. Os policiais sabiam que eram tiros de fuzil, logo iniciaram um cerco um pouco maior da região. A aeronave estava voando alto e afastada, reportando a situação e auxiliando na coordenação. De repente, eles perceberam que diversas pessoas começaram a sair de suas casas”.
A tripulação tomou a decisão de baixar sobre as casa para utilizar o alto-falante da aeronave para alerta a população sobre a ocorrência, momento em que permitiram que o atirador atingisse a aeronaves com dois tiros – um pegou no alto-falante e outro atravessou o tanque de combustível – obrigando a aeronave a efetuar um pouso de emergência para avaliação da situação, próximo do aeroporto de Van Nuys.
Ao longo dos voos de patrulhamento, a ASD também conduz “voos especiais”, que são missões de vigilância efetuadas por duas aeronaves AS350 equipadas com sistemas de câmeras Cineflex e downlinks Troll. Os equipamentos especiais dessas aeronaves permitem a condução de missões de vigilância a grande altitude em apoio a missões de assuntos internos, tráfico de entorpecentes e investigações especiais.
A capacidade de transmissão de vídeo também é utilizada na cobertura de grandes incidentes, sendo em 2010 mais de 10 ocasiões deste tipo.
“Esse número deve quadruplicar no próximo ano”, continua Smith, “Nós compartilhamos uma frequência de 2.4 MHz e temos de solicitar a liberação do canal para transmitir imagens do helicóptero para o comando, mas em breve iremos começar a utilizar um canal exclusivo de transmissão na frequência 4.9 MHz, além de tudo criptografado”.
Com o apoio de verbas do governo federal, a capacidade de vigilância dessas duas aeronaves equipadas com câmeras Cineflex será expandida para mais sete aeronaves da frota, que serão equipadas com cameras FLIR, possibilitando a filmagem e transmissão dos vídeos. Tal projeto deverá estar finalizado até o final do verão de 2011.
“Nós também temos a capacidade de prover uma plataforma aérea para snipers, onde nós instalamos bancos Tylers nos esquis e embarcamos membros das equipes táticas (SWAT)”, explica Smith. “Nós treinamos em conjunto com eles duas vezes ao mês, logo estamos prontos para caso ocorra alguma necessidade”.
Apesar desse tipo de operação já ter sido solicitada por duas vezes, em ambas o comandante da operação não necessitou de sua intervenção.
Preparação para os desafios
Em termo de manutenção de proeficiência, Smith explica que o requerimento da ASD é de se efetuar recheques a cada 90 dias. “Recheques duas vezes ao ano não são suficientes para nós. O risco de voar baixo em regiões densamente povoadas força você ter uma reação muito rápida, ou sua propabilidade de sucesso em um pouso em auto-rotação diminui drasticamente. Assim, nós temos recheques muito proativos a cada 90 dias, que incluem provas orais e práticas”.
Cinco das 14 aeronaves AS350 estão se aproximando da marca de 15.000 horas de voo, enquanto as duas aeronaves que operam o sistema de câmera e downlink estão atualmente com 9.400 e 9.700 horas.
Já os Jet Rangers da ASD, dois são utilizados para instrução e treinamento. “Temos alguns com mais de 30.000 horas de voo. Teve época, cerca de 10 anos atrás, nós tínhamos dois com mais de 35.000 horas de voo e ganhamos um prêmio da Bell pois eram os Jet Rangers mais voados ainda em serviço. Nós finalmente aposentamos essas aeronaves, e adoraríamos aposentar os demais, mas nossos pilotos alunos fazem um bom uso deles”.
Um retrofit para utilizar um “glass cockpit” é uma das direções a ser tomada pela unidade.
“Nós temos o sistema da Sagem Avionics instalado em um Jet Ranger e em três AS350. Funciona bem, um ótimo sistema. Mas, estamos em um estágio de pesquisa, onde nossas duas novas aeronaves AS350 virão com o sistema da Cobham Chelton. Assim, nossos pilotos irão definir o futuro sistema para toda a frota”, complementa Smith. Essa decisão será tomada pelos pilotos, que dirão “Ei, nós achamos esse sistema o melhor”, então possivelmente será definido para ser instalado em toda a frota da ASD.
A unidade utiliza seus próprios engenheiros para realizar o upgrade para “glass cockpit”. “Nós comprávamos nossas aeronaves, e depois mandávamos para outra empresa instalar os painéis nelas”, diz Smith. “Realizamos um estudo e descobrimos que podíamos economizar cerca de US$ 440.000 se nós realizássemos esse serviço aqui com nosso próprio pessoal. Além da economia financeira, como somos nós que fazemos a instalação e colocamos tudo para funcionar, o tempo de indisponibilidade é bem menor. O único aspecto negativo é que fazemos essas instalações durante os períodos de manutenção, então essas manutenções acabam consumindo um pouco mais de tempo, mas a economia é significante”.
Tido como uma meta, a unidade vem se esforçando para ter uma frota padronizada. “O problema é que tecnologia envolve ou ter influência nossa ou influência dos fabricantes. Assim, ou vamos instalar Sagem ou Cobham, serão os sistemas de irão padronizar nossas aeronaves”, conclui Smith.
Algumas vezes, novas tecnologias acabam trazendo alguns problemas. “Os novos AS350 já vieram com VEMD (Vehicle and Engine Monitoring Display) instalados. A Eurocopter nos pregou uma peça quando fomos retirar a aeronave na fábrica, nossos pilotos disseram : “O que é isso?”. Não foi uma coisa que nos agradou, mas eles disseram que era um item de série e não um opcional. Então nós começamos a voar com eles”.
Duas novas aeronaves que estão para ser entregues também serão equipadas com VEMD. Ambas as aeronaves, quando da entrega, já serão equipadas com o glass cockpit da Cobham. Com o início de suas operações, duas outras aeronaves serão aposentadas, mantendo o tamanho da frota em 19 helicópteros.
Como em outras unidades aéreas, o aspecto financeiro é sempre crítico no gerenciamento da frota. O ciclo normal de renovação de frota da ASD é de dez anos ou 15.000 horas de voo. “Em 2001, compramos 10 AS350 de uma vez. Não dá para pegá-los e sair voando todos de uma vez, assim depois todos irão baixar para manutenção juntos, então temos dois pilotos em tempo integral só cuidando de nossa manutenção. Eles realizam todos os voos de testes e fiscalizam os serviços que são realizados nas aeronaves. Todo dia eles encaminham uma planilha para nosso comandante, com a lista das aeronaves que necessitam voar”, diz Smith.
Sobre a mudança dos prefixos das aeronaves, dos antigos “LA” para os novos “PD”, bem como a mudança das cores do antigo cinza e azul para uma pintura preta e branca, Smith completa “Isso reflete o nosso objetivo – a nossa missão de polícia é a mesma, o que muda é o veículo. Nossa nova pintura preta e branca é muito bonita e transmite a nossos policiais que todos estamos no mesmo time. E a razão que eu acho sobre nosso apoio ser tão eficiente é que em algum período de nossas carreiras nós também fomos policiais de rua. Eles sabem que somos integrantes do sistema de segurança, e não querem que isso mude”.
Confira o vídeo:
Fonte: Revista Rotorhub – Tradução e adaptação: Alex Mena Barreto / Piloto Policial