Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP
COMO COMEÇOU
Há um fascínio natural pela aviação. A perícia e a coragem dos pilotos aliam-se a tecnologia das aeronaves, reforçando esse glamour. Entretanto essa atmosfera não disfarça certa desconfiança na segurança que é estampada. Com razão, os profissionais da aviação buscam conhecer os óbices que podem surgir em cada voo e desenvolver contramedidas no intuito de mitigar riscos.
Na aviação os fatores humanos se destacam nas investigações de acidentes e incidentes. Tomadas de decisões inadequadas e erros de julgamentos tendem a conduzir a procedimentos perigosos, muitas vezes, com a crença de se estar fazendo o correto.
Mas, a pressão por agir dessa ou daquela forma, muitas vezes, sofre interferências importantes oriundas externamente, como a pressão por produtividade e por desempenho, que induz o trabalho contínuo por 24 horas – uma necessidade da sociedade atual (Fischer, Moreno & Rotenberg, 2004).
Assim o ser humano precisa de uma série de adaptações físicas e psicológicas para responder às implicações desse tipo de atividade contínua, porém nem sempre chega a um nível satisfatório (Mello, Noce, Kouyomdjian & Tufik, 2009).
As atividades de segurança pública e defesa civil são imprescindíveis à sociedade. Em que pese incorporar tecnologias modernas, dependem fortemente de seus recursos humanos. Diversas corporações combinaram suas atividades com a aviação de asas rotativas. Os helicópteros desempenham um papel sem substitutos, mas com riscos inerentes às duas profissões: a de policial ou bombeiro e a de piloto.
Mas o que é a fadiga e quais as consequências e desafios para a aviação e para seus gestores?
A fadiga é um fenômeno complexo, de difícil definição, que tem merecido pesquisas desde o início do século passado, época em que se pretendia aumentar o desempenho humano e da produtividade.
Como os efeitos da fadiga são capazes de restringir o voo, o objetivo é explorar as influências desse fenômeno atividade de piloto de aeronaves de segurança pública e defesa civil, colher a percepção dos pilotos quanto à presença ou ausência de fadiga e analisar formas de gerenciamento.
No início do Século XX, Gilbreth e Taylor estudaram a fadiga com o objetivo aumentar a produtividade e especialização. A administração científica de Taylor introduziu princípios que mudariam a forma de produção e a concepção de trabalho da época (Chiavenatto, 2003).
Durante a Primeira Guerra Mundial, a fadiga era uma das consequências mais evidentes geradas pelas exigências físicas e psicológicas da campanha. Um soldado relatou que durante um ataque, quando se jogava ao chão para se proteger, um companheiro pegava imediatamente no sono e tinha que ser cutucado com a coronha do fuzil para novo avanço da fileira (Kellet, 1987).
As preocupações com a fadiga por tempo na tarefa principiaram a regulamentação dos transportes norte-americanos (inclusive da aviação) e adequação dos requisitos de pausas e intervalos para descanso durante o trabalho (Gander, Graeber & Belenky, 2011).
A partir de 1980 pesquisadores da NASA iniciaram estudos com objetivo de determinar a extensão da fadiga, seus efeitos na tripulação e desenvolver contramedidas (Rosekind, Gander, Connel, & Co, 2001).
NATUREZA DA FADIGA
A fadiga é uma condição restritiva para a continuidade do trabalho e embora a fisiologia apresente variadas hipóteses para explicá-la, ainda não existe um conhecimento consolidado, vez que a fadiga parece sofrer interferências em duas frentes, uma física e outra mental ou psicológica (Kube, 2010).
Gander et al. (2011) entendem que a fadiga é o resultado de demandas de trabalho que excedam a capacidade de desempenho momentâneo, devido à inadequada recuperação. Os fatores que afetam a performance incluem: flutuações no ciclo diário do relógio biológico circadiano, a restrição do sono e a relação tempo na tarefa e de sono.
Rosekind et al. (2001) consideram fadiga como um termo genérico para uma variedade de diferentes experiências subjetivas, tais como, o desconforto físico após o excesso de exercícios ou o trabalho de um determinado grupo de músculos, a dificuldade concentração durante uma tarefa monótona, a dificuldade de valorar sinais potencialmente importantes durante longas ou irregulares horas de trabalho ou a simples dificuldade de se manter acordado.
A Internacional Civil Aviation Organization (ICAO) considera a fadiga como ‘o estado fisiológico de redução da capacidade de desempenho físico ou mental, resultante da falta de sono, vigília estendida, fase circadiana e/ou carga de trabalho, que pode prejudicar o estado de alerta e a habilidade de operar com segurança uma aeronave ou desempenhar tarefas relativas à segurança’ (ICAO, 2011, cap. 2, p.1).
Partindo da conceituação de fadiga da ICAO (2011), a abordagem dos fundamentos do sono, da vigília prolongada, dos ritmos circadianos e da carga de trabalho, pode favorecer os gestores da organização e o próprio piloto no controle e mitigação do risco.
Tais fundamentos serão discutidos nos próximos capítulos.
Artigos relacionados
FADIGA VI: O gerenciamento de risco da fadiga
FADIGA V: As Organizações e Fadiga
FADIGA IV: A fadiga na aviação
FADIGA III: Carga de trabalho e ritmo biológico circadiano
FADIGA II: O sono e a vigília prolongada
FADIGA I: Como começou e sua natureza
Monografia – Estudo da fadiga na pilotagem de helicópteros