NELSON HENRIQUE COELHO (1)
RESUMO
Não são poucas e nem raras às vezes em que o ruído interfere no entendimento do que se fala, gerando stress nas operações aéreas de segurança pública em especial nos momentos onde a comunicação entre os tripulantes é fundamental. O presente artigo tem por escopo trazer algumas informações para que gestores de atividades aéreas possam decidir por que tipo de equipamento seja mais adequado a sua necessidade operacional escolhendo entre os modelos existentes no mercado e suas evoluções como, capacete de vôo, fones de ouvido; ou medidas que devam ser adotadas pela organização no tocante a diminuição do stress provocado pelo ruído em vôo, provendo uma melhora na inteligibilidade da fala acarretando em fatores positivos a segurança das operações, podendo inclusive abrir espaço para a ampliação deste modelo de pesquisa para avaliação dos níveis de ruído em outras atividades desenvolvidas pelos órgãos de segurança pública, buscando uma melhora inclusive na qualidade de vida do individuo.
Palavras-chave: Capacete de vôo, fones de ouvido, ruídos em vôo, qualidade de vida.
1. INTRODUÇÃO
Os fatores que afetam o desempenho na atividade aérea são vários, e para delimitarmos o assunto, destacamos a fisiologia(2) do homem, como um destes elementos e em específico o ruído, procurando demonstrar através de pesquisas já realizadas medidas que podem ser adotadas para, além de obtermos o máximo de seu desempenho, melhorar a qualidade de vida do profissional.
A motivação de descrever sobre estes fatores foi em virtude de termos poucos estudos sobre o assunto, ficando basicamente baseado em informações. As pesquisas no Brasil nesta área em específico são poucas, havendo, contudo alguns especialistas nesta área da medicina, o que nos obriga sempre a defender a necessidade de determinados tipos de equipamentos, ocorrendo por muitas vezes a não manutenção dos mesmos por falta de conhecimento, principalmente na atividade pública, pois, em sua grande maioria são equipamentos caros, e que o administrador sempre questiona da real necessidade, até mesmo porque aparecem os técnicos de plantão, trazendo informações a respeito de matérias que em tese substituiriam com custos mais baixos, como é o caso da substituição do tecido Nomex® pelo algodão com tratamento (retardante) e como é conveniente, geram questionamentos, ocasionando desgastes e desperdício de energia e tempo a justificar o porquê de tal material ou cor de tecido.
2. OBJETIVO ESPECÍFICO
A área da fisiologia é muito extensa, porém o objetivo específico é a influência do ruído na atividade aérea, que poderá ser minimizado com adoção de equipamentos que diminua a exposição ao ruído.
Basicamente, as informações literárias no Brasil são oriundas da área trabalhista, nos obrigando a trazer informações de trabalhos específicos desenvolvidos em outros países. Dentro deste escopo buscamos pesquisar estudos e trabalhos desenvolvidos pelos departamentos americanos, por solicitação de órgãos do governo para uso nas unidades das forças armadas americanas, além de alguns trabalhos e publicações desenvolvidos no Brasil.
A pesquisa de tais trabalhos nos levou a realizar observações de que o que se utiliza de tecnologia nos dias atuais foram em sua grande parte desenvolvidas nas décadas de 60 e 70, trazendo-nos interrogações que nos intrigavam, como por exemplo, a confiabilidade de traçarmos como verdade. Porém, ao confrontarmos com dados de outros estudos verificamos que podemos sim adotá-los com a absoluta certeza de assertividade.
Dentro do aspecto fisiológico separamos um em especial, que se trata do ruído e em convivência com a atividade aérea, onde o profissional pode além de ter sua eficiência diminuída, poderá lhe acarretar danos e seqüelas irreversíveis.
O ruído e a vibração estão diretamente relacionados na atividade aérea, por conseqüência quanto maior os níveis de vibração maior será o ruído. Estes dois fatores associados geram problemas de ordem fisiológica onde a intensidade e o tempo de exposição diretamente proporcional poderão levar a danos momentâneos ou irreversíveis conforme Portaria Nº 3214 de 08 de julho de 1978 do Ministério do Trabalho em sua NR-15, anexo Nº 1 que determina os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente.
Segundo vários estudos e análise de materiais, um dos fatores que geram stress e que possam afetar fatores de segurança é o ruído, e o homem vem a anos tentando achar mecanismos para permitir que o profissional possa estar em um ambiente ruidoso e poder desenvolver sua atividade profissional, pois, em vários casos eliminar o ruído é impossível.
Em específico na aviação utilizamos mecanismos para diminuir esta exposição como earmuffs e o earplug, sendo, utilizados individualmente ou simultaneamente, porém no caso do earplug geram por muitas vezes desconforto e o uso associado pode gerar uma perca na clareza da fala, até mesmo porque o canal auditivo não é o único lugar por onde absorvemos os sons, assim sendo colocamos objetos que bloqueiam a clareza da comunicação.
Com o intuito de resolver este problema chegou-se ao Active Noise Reduction – ANR (Redutor Ativo de Ruído), que segundo o estudo publicado na Aviation, Space, and Environmental Medicine, Vol. 75, Nº. 2, February 2004(3) utilizando-se 40 pessoas e dividindo-se em dois grupos de 20 com nenhuma perda auditiva e 20 com alguma perda auditiva e utilizando três modelos de comunicação 01 (um) capacete com sistema de comunicação normal, um outro com a utilização associada com o CEP e um outro com ANR.
O estudo revelou fatores interessantes, até mesmo com observações, quanto a validade ou não dos métodos de avaliação e nível aceitável nos teste de audiometria(4).
Uma das observações é de que os testes são realizados em ambiente livre de ruídos, quando o ambiente de trabalho os níveis chegam a 95 dB(5) ou mais, levando talvez a uma avaliação inadequada, que poderá levar os tripulantes(6) em atividade, estarem em um nível limiar da inteligibilidade da fala, e que poderá gerar fatores contribuintes na execução de uma tarefa ou atividade a bordo.
3. PROBLEMA
Uns dos problemas levantados no estudo foram à inteligibilidade da fala em vôo, verificar se com a associação de tecnologia poderiam tripulantes retornar ao vôo, e diminuir o stress do ruído em vôo. Este último ficou prejudicado, pois, seria muito mais específico, porém a sua influência no desempenho dos tripulantes é conhecida, reduzindo a disponibilidade para o trabalho e fadiga de vôo(7).
Além disto, definir qual o método mais adequado a solução deste problema, fazendo com que um número maior de indivíduos esteja apto ao vôo, que em grande parte são decorrentes de um investimento considerável, e a colocação de outro nas mesmas condições resultará mais investimento além de um tempo considerável, pois, o material humano além dos ensinamentos adquire uma bagagem de conhecimento inerente as suas experiências em particular, o que outro talvez não as tenha.
Sabe-se que, nas atividades de segurança pública a utilização de capacetes de vôo vem aos poucos tomando corpo, até mesmo porque, boa parte dos integrantes destas unidades é oriunda de escolas civis, onde o uso do capacete de vôo é relegado a segundo plano, primeiramente, pelo inicial desconforto e segundo pelo seu custo.
Salientamos que, a utilização de capacetes de vôo na atividade civil, poderia ser controversa, até mesmo porque a exposição destes profissionais a situações de risco é mínima ou rara, e a utilização de fones de ouvido, revestimento insonorizado, já atendem as necessidades da sua atividade. Porém, na atividade de segurança pública, além dos riscos da atividade (acidente), os sistemas utilizados pela aviação civil não são incorporados, pois, inviabilizam o emprego de múltiplo uso ou multimissão(8) devido à impossibilidade de realizar assepsia(9) da aeronave quando contaminada, principalmente em missões de resgate.
Por este motivo o administrador público deve acercar-se de informações técnicas e devidamente provadas, para direcionar os investimentos nesta área que é pouco ou nada atendida, sendo por alguns visto com descaso.
4. DEFINIÇÕES
a. – EARPLUGS – Tampões do ouvido, que podem ser moldáveis (ajustáveis) tipo espuma de expansão ou semi-rigidos de plástico de baixo custo, porém, de difícil aceitação pelo incômodo que às vezes gera, além do que em uma tripulação todos deveriam utilizar, pois, gera diferença de ajustes de volume individualmente. Provem uma redução entre 23 a 33 dB.
b. – EARMUFFS – Abafadores de ruído que associam microfones permitindo a comunicação bilateral entre os tripulantes e os sistemas de comunicação.
c. – ANR – Active Noise Reduction (Redutor Ativo de Ruído) tem como característica a amplificação do som externo até o nível de 85 dB e acima disto elimina o ruído externo, instantaneamente, como é o caso de um tiro.
d. – OCEP™ – Optically Driven Communication Earplug (plugs de ouvido com ANR associado) efetuam o mesmo serviço do sistema ANR, só que ao invés de estar associado ao sistema de comunicação do capacete ou do fone, é um plug que é introduzido no canal auditivo como os earplugs com sistema eletrônico de atenuação de ruído.
5. RESULTADOS
Nos vários artigos pesquisados, foi notória a melhoria na inteligibilidade da fala pelos tripulantes de aeronaves, aumentando o seu desempenho durante as operações, além do tempo de exposição ao ruído.
Mesmo aqueles que já possuíam alguma perda auditiva, conseguiram desempenhar suas tarefas com precisão e assertividade, gerando o questionamento de qual é o limite permissível de perda auditiva nos tripulantes de aeronaves.
Em um estudo realizado no Batalhão de Aviação da Polícia Militar chegou-se a índices de ruído interno da cabine em torno de 100 dB. Mas as utilizações de fones de ouvido reduzem esta exposição em 14 dB o que de acordo com a tabela apresentada.
De acordo com dados da Veteran’s Administration, o Exercito americano em 1998, relatou perda auditiva em 34.851 casos, representando indenizações ao custo de mais de US$ 180 milhões de dólares. E que o custo da perda de audição pode ser descrito em dólares de indenização após a reforma. Mas o custo de propriedade oculta perda, que reflitam em um menor desempenho, e perda de produtividade são mais difíceis de determinar.
Devemos dentro de nossas unidades aprofundar a pesquisa sobre o assunto no tocante a realização de testes e ensaios, para que, baseados nestes possamos adotar medidas corretivas para além de diminuir as perdas auditivas, melhorar a capacidade, disposição e motivação para o trabalho, no tocante a situações de stress, e longas horas de vôo, como foi o caso das enchentes que afetaram o Vale do Itajaí no dia 23 de novembro de 2008, onde as aeronaves e seus tripulantes voaram por vários dias por mais de 07:00H de vôo e sob condições marginais de vôo.
Este fator é de fundamental importância, pois, uma informação passada por um tripulante no momento de um pouso em área restrita(10) e não compreendida em virtude da não clareza da fala, devido ao ruído e a fadiga gerado por ele, podem levar a um acidente ou incidente de vôo, e este com prejuízos incalculáveis.
A adoção de novas tecnologias se necessário para a melhora da qualidade de vida e de trabalho de tripulantes de unidades aéreas de segurança pública, devendo é claro este tipo de discussão e pesquisa quebrar as barreiras de ser discutido apenas em unidades aéreas e sim, percorrer todos os serviços realizados por integrantes de outros serviços desenvolvidos nas Polícias Militares.
6. CONCLUSÃO
Chegamos à conclusão de que é necessária a adoção de medidas adequadas para diminuir os níveis de ruído a que ficam expostos os tripulantes de unidades aéreas de segurança pública, podendo em um primeiro momento e aos mais desavisados de que a adoção apenas de fones de ouvido com ANR acoplados resolvam o problema.
Com certeza em uma primeira análise, observando apenas pelo aspecto do ruído isoladamente atenderia com certeza, como é o caso da aviação civil, e que muitos já vem utilizando.
Porém no caso da aviação de segurança pública a utilização dos capacetes de vôo é um fator muito além de apenas reduzir o ruído, é também aumentar as possibilidades de sobrevivência no caso de impacto na cabeça, proteção aos olhos no caso da incidência solar e na exposição de partículas sólidas que podem ser lançados contra os tripulantes.
Mas cada aspecto aqui levantado já daria um trabalho de pesquisa específico.
Para concluir trago os dados de uma pesquisa efetuada em 100% dos pilotos de OH-58 onde nos relatos de 90% deles sentiram melhora considerável da qualidade do trabalho e das informações que eram transmitidas em vôo, gerando economia de energia no tentar entender o que se falava, podendo dedicar-se com mais detalhes ao vôo.
NOTAS
(1) Autor: Artigo produzido no CAO/2009, graduado pela Academia da PMSC -1990, Curso de Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais – MB – São Pedro da Aldeia – RJ – 1992, Major da Polícia Militar de Santa Catarina, Instrutor e Examinador de Vôo do BAPM (Batalhão de Aviação da PMSC).
(2) Do Gr. physiología < phýsis, natureza + lógos, tratado s. f., parte da Biologia que estuda as funções dos órgãos nos seres vivos, animais ou vegetais.
(3) Authors: Susan E. Mercy; Christopher Tubb; Soo H. James; QINETIQ LTD FARNBOROUGH (UNITED KINGDOM)
(4) Conjunto dos métodos e técnicas para avaliação da acuidade auditiva.
(5) Unidade utilizada para medir a intensidade de um som, cujo símbolo é dB.
(6) Pessoa que tripula, que pertence à tripulação de uma aeronave, de uma embarcação, de um veículo, etc..
(7) Cansaço resultante de trabalho excessivo; trabalho; lida; faina.
(8) Termo utilizado pelo Batalhão de Aviação da PMSC
(9) Estado de desinfecção; conjunto de meios empregados para destruir os agentes de infecção.
(10) Área de dimensões menores do que a prevista em legislação, exigindo um pouso fora da rampa ou eixo de aproximação normal onde seja possível pousar a aeronave.
REFERENCIAS
– POWELL, John A; KIMBALL, Kent A; MOZO, Ben T; MURPHY, Barbara A Improved communications and hearing protection in helmet systems: The communications earplug, Military Medicine , Jun 2003
– BJORN, Valerie; WILT, Jim; Communication Earplug Approved for Naval Aviator Use http://www.safetycenter.navy.mil/Aviation/articles/earplug.pdf
– PINTO, Roberto Neves (M.D, Ph.D) Contribuição da Medicina à Arte do “Vôo Cego” Acta ORL v.25 n.3 – Páginas 173 a 254 – São Paulo – Jul/Ago/Set – 2007 http://www.actaorl.com.br/detalhe_artigo.asp?id=186
– DUARTE, José Maria Gouveia; CORREIA, Rui Manuel Vieira Gomes; SILVEIRA, Simão Pedro Esteves Roque; Medicina Aeronáutica: Uma Componente Aérea da Saúde Militar Publicado em 22 Outubro de 2006 extraído do site: http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=120
– LOTEIRO, Claudia Paulich; (Março 1998) “Percepção de comandantes de boeing 767 da Aviação Civil Brasileira sobre as repercussões das condições de trabalho na sua saúde”; Dissertação apresentada com vistas à obtenção do Título de Mestre; Fundação Osvaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública extraído do site: http://portalteses.icict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_cover&id=000048&lng=pt&nrm=iso
– BRASIL. Lei nº 7.183, de 05 de abril de 1984. Regula o exercício da profissão de aeronauta e dá outras providências. Mensário de Legislação da Aeronáutica, Rio de Janeiro, p. 7, 30 abr.1984. BMA 113-4
– DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTUDOS E PESQUISAS DE SAÚDE E DOS AMBIENTES DE TRABALHO (DIESAT). Aeronautas: condições de trabalho e de saúde. São Paulo: Sindicato Nacional dos Aeronautas, 1995, p. 3-17.
– RIBERA, John E; MOZO, Ben T; MURPHY, Barbara A; Speech Intelligibility with Helicopter Noise: Tests of Three Helmet- Mounted Communication Systems; Army Aeromedical Research Lab Fort Rucker Al extraido do site: http://www.stormingmedia.us/99/9953/A995324.html