Santa Catarina – Tripulante operacional do helicóptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros, Juliano Chaves de Souza, 31 anos, encara o atendimento de acidentes nas perigosas rodovias do Vale do Itajaí, especialmente na BR-470, como rotina. Nunca imaginou, no entanto, que atenderia uma ocorrência em que a vítima era o próprio irmão.
Em agosto do ano passado, a equipe do socorrista, sediada em Blumenau, foi acionada para prestar apoio a um acidente na ponte de Ibirama. Uma batida de frente, entre carro e caminhão.
Quando o Arcanjo pousou, na rodovia, já havia ambulâncias no local. Um dos motoristas, no entanto, estava em situação mais delicada e precisava ser encaminhado com urgência ao hospital.
Juliano viu a maca sendo levada em direção ao helicóptero, ouviu a equipe médica comentar o caso, e fez sinal para que o helicóptero fosse desligado, para possibilitar a entrada do paciente. Voltou para conversar com o médico e o enfermeiro, quando ouviu chamarem seu nome:
— Ele me reconheceu pela voz e me chamou. Disse “Juliano, sou eu, o Rafa”. Eu não havia olhado para o rosto dele até então, estava de máscara e colar cervical.
Rafael, 26 anos, dirigia o carro de um amigo, levando a mulher e o filho dele a uma consulta médica, quando ocorreu o acidente. Ao ver do alto o resultado da colisão, Juliano não reconheceu o carro e não imaginou que seu irmão estava passando pela rodovia naquele dia.
O hábito de atender casos graves, especialmente acidentes, ajudou a manter a calma:
— Tenho que estar pronto para ajudar, e se me deixar abalar eu não ajudo ninguém. Foi o que eu fiz. Ele já estava imobilizado, já tinham estancado a hemorragia. Minha preocupação era o que eu ia dizer para os meus pais.
Saber que o irmão mais velho havia participado do atendimento ao caçula, e a garantia de que estava tudo bem, tranquilizou os pais. Rafael fraturou o fêmur em três lugares e precisou passar por cirurgia. Dias depois teve uma embolia pulmonar, o que estendeu a internação por 15 dias.
Hoje ele está recuperado. Teve sorte. No ano passado, 74 pessoas que sofreram acidentes na BR-470 não sobreviveram aos ferimentos.
— A maioria dos atendimentos que fazemos é acidentes. E, enquanto não duplicarem a rodovia, não vai acabar. Não tem manutenção, a pista está cheia de buracos, à noite não tem sinalização e muitas pessoas fazem desse trânsito o dia a dia delas — destaca o socorrista.
A frequência dos acidentes graves, com vítimas, foi determinante para a instalação da base do helicóptero Arcanjo em Blumenau, em 2016.
Fonte: Diário Catarinense, Dagmara Spautz.