Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Tecnologia pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, no programa de Mestrado em Tecnologia: Gestão, Desenvolvimento e Formação, sob orientação do Prof Dr Alfredo Colenci Jr. Trabalho apresentado neste site devidamente autorizado pelo autor.
RESUMO
Esta dissertação de mestrado: GESTÃO DA TECNOLOGIA E A CAPACITAÇÃO PARA A AÇÃO SOCIALMENTE PRODUTIVA: ESTUDO DE CASO NA AVIAÇÃO POLICIAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO tem por objetivo apresentar o processo de gestão de tecnologias no contexto de atuação da Aviação Policial em suas diversas fases, com vistas à adoção de soluções inovadoras e a formação de competências.
Também busca verificar a adequação da formação do piloto policial dentro de um contexto de alta demanda tecnológica e de necessidade de racionalização de meios, em uma cultura corporativa. Para atingir tais objetivos, analisa a evolução institucional da Aviação Policial e a correspondente evolução dos modelos de gestão e nas tecnologias adotadas, incorporadas em hardware: aeronaves, instrumentos, aviônicos e em softwares: sistemas de gerenciamento de missão, o que reforça a necessidade de um monitoramento sistêmico e de rápida adequação. Busca validar a hipótese de que um processo de formação de pessoal tecnologicamente orientado aumenta a eficiência dos processos desenvolvidos pelo serviço aéreo policial, gerando ainda a possibilidade de acionamento de centros de produção nacional aptos a gerar conhecimento aplicável às necessidades, bem como a aplicação dos processos de treinamento em outras áreas profissionais que exijam operadores competentes em ambientes de rápida demanda de informações e decisões.
Palavras-chave: Formação, Formação de Competências, Aviação Policial, Piloto Policial, Gestão Organizacional.
INTRODUÇÃO
A aviação é uma área de conhecimento humano que sempre traz à mente a idéia de inovações tecnológicas e conquista de novos desafios. Tal imagem tem sua base em uma centena de anos de busca de novas soluções e técnicas, inicada com o pioneiro vôo de Alberto Santos Dumont, no Campos de Bagatelle, arredores de Paris, em 23 de outubro de 1906. Desde então a aviação tem evoluído a passos largos, culminando com a quebra dos limites da atmosfera terrestre e a conquista do espaço. Tais vitórias, arduamente conquistadas, mudaram a face do mundo.
Na chamada Aviação Policial o quadro não poderia ser diferente. Desde seu surgimento no Estado de São Paulo, em 17 de dezembro de 1913, com a criação da Escola de Aviação da Força Pública, a aviação policial do Estado de São Paulo é marcada pelo pioneirismo, uso de recursos tecnológicos sofisticados e inovação visando o cumprimento de suas missões com eficácia (CANAVÓ, 1978).
Com o surgimento de confiáveis versões do helicóptero, ainda na década de 1940, este equipamento foi rapidamente vislumbrado como um eficiente meio de auxílio às missões policiais. Apenas dois anos após ter sido homologado para operação comercial, o helicóptero já era utilizado como veículo policial pelo Departamento de Polícia da Cidade de Nova York, que, em 30 de setembro de 1948, iniciou suas operações com um aparelho Bell 47B. Essa eficiente forma de emprego do helicóptero em auxílio às missões policiais e de salvamento, espalhou-se por todo o mundo, sendo hoje seu uso considerado imprescindível a uma Polícia moderna e eficiente (LIMA, 1994).
Na fase recente da Aviação Policial no Estado de São Paulo foi criado o GRPAe, Grupamento de Radiopatrulha Aérea, herdeiro das tradições da Aviação da Força Pública, o qual manteve-se na vanguarda do uso das aeronaves policiais, sempre equipadas com instrumentos e sistemas operacionais avançados.
De fato, a eficácia da operação conta de maneira inseparável com o pleno emprego de tecnologias avançadas, incorporada em hardware ou disponíveis em softwares, exigindo simbiótica integração Homem-Máquina-Sistemas, fato que impõe o estabelecimento de competências múltiplas na formação do policial embarcado.
Como exemplo cabe mencionar a pioneira implementação de equipamentos de gerenciamento de missão dotados de mapas móveis. Tais equipamentos pertencem a uma família de sistemas avançados de navegação que aumentam o alerta situacional das tripulações, além de simplificar e otimizar o gerenciamento das missões. Mostram a posição atual da aeronave, velocidade, rota e dados de navegação em um mapa colorido detalhado, com informação dinâmica adicional da elevação do terreno (FALCONI, 2003).
Verifica-se com isso que o grau de complexidade envolvido em uma cabine de pilotagem de uma moderna aeronave policial extrapola os limites do conhecimento técnico do vôo e envolve o uso de recursos eletrônicos voltados para a realização das diferentes missões atribuídas. Hoje, as aeronaves policiais mais adequadas e equipadas dependem de complexos sistemas. Era uma vez o tempo em que o helicóptero policial, no estado da arte, era um Bell modelo 47 equipado com um par de olhos e um rádio. Não mais; a cabine de pilotagem das modernas aeronaves policiais tem se transformado em locais altamente sofisticados em termos de comunicação, navegação e tecnologia de informação, necessitando que seus operadores tenham formação abrangente e dinâmica, voltada para não só a pilotagem como também para o gerenciamento de complexos sistemas, mantendo a todo tempo, alto nível de alerta situacional e segurança de vôo, sem perder o foco do cumprimento das diversas missões a eles atribuídas.
Para ilustrar tal complexidade, basta verificar-se a grande quantidade de equipamentos e funções reunidas em exíguo espaço da cabine de pilotagem de uma aeronave de alta tecnologia em missão policial típica:
a. um “pod” externo contendo um sistema de visão infravermelho;
b. uma câmera CCD colorida com alta capacidade de zoom ótico e digital, com sistema de congelamento de imagens para facilitar a visualização e coleta de detalhes, como uma placa de carro (DONALDSON 2003), possuindo ainda um sistema conhecido como ANPR (Automatic Number Plate Recognition, que permite a comparação de placas de veículos visualizadas com a câmera com uma lista on line de carros furtados e roubados, informando imediatamente qualquer situação irregular do veículo (LERT, 2007, p.42-5).
c. cabine adaptada para uso de intensificadores de imagem (Óculos de Visão Noturna) (GENDREAU, 2001);
d. um mapa móvel (“moving map”) digital, geoposicionado, com diversos mapas, cartas aeronáuticas, guias de rua, etc., de forma a permitir que a tripulação selecione qual a melhor interface e gerencie o local da ocorrência com precisão;
e. um sensor que mostre no mapa móvel para onde o sistema de busca por infravermelho e o farol de busca estão apontando e que permita também apontá-los na direção de um local escolhido no mapa, automaticamente;
f. um sistema de transmissão de imagens (downlink) que envie imagens a um ou diversos receptores em terra, como os Centros de Operação da Polícia e viaturas de Gerenciamento de Emergências;
g. um farol de busca que permite integração com os sistemas de missão, sendo possível determinar o escaneamento de uma área, automaticamente, ou mantê-lo acoplado ao sensor infravermelho, apontando ambos sempre para a mesma posição;
h. alguns outros apetrechos tecnológicos em aeronaves policiais relacionados com a segurança de vôo são os detectores de obstáculo , que incluem, além do usual TCAS, um sistema de detecção de fios e cabos de alta voltagem, e os assentos anti-crash, que protegem a cargas muito mais altas de impacto que os usuais (ELLIOT, 1999).
Os sistemas acima descritos, que parecem saídos da ficção científica, na realidade já estão em operação em diversas unidades de policiamento aéreo há algum tempo, sendo que nos últimos cinco anos houve uma gradual transferência de tecnologia dos equipamentos militares de operações especiais para as aeronaves policiais (WRIGHT, 2003). Sendo este um processo de mudança extremamente rápida, há de se adequar a formação profissional do futuro piloto policial às necessidades tecnológicas da missão, articulando o processo ensino-aprendizagem com a aplicação profissional, pois, assim como o uso de plataformas aéreas móveis no policiamento não é fato novo, também é constante a atualização dos equipamentos embarcados e a evolução dos mecanismos de controle e apoio aos operadores de tais equipamentos.
Tais fatos fazem com que a Gestão da Tecnologia seja uma necessidade premente para a organização policial, a fim de mantê-la tanto quanto possível no estado da arte tanto em tecnologia como em gestão, dada a velocidade de inovação. Para tanto, há necessidade de se monitorar sistematicamente o processo, de modo a oferecer alternativas válidas para o processo de decisão, principalmente na orientação para a formação de pessoal, de forma a permitir uma capacitação adequada de seus recursos humanos, visando a aplicação competente e otimização no uso da tecnologia disponível, com o objetivo de realizar uma ação socialmente produtiva: a busca da segurança pública e a conseqüente paz social.
A partir dessa focalização, a presente dissertação analisa o processo de formação do piloto policial da Polícia Militar do Estado de São Paulo com o objetivo de verificar sua adequação dentro de um contexto de alta demanda tecnológica e de necessidade de racionalização dos meios, em uma cultura corporativa. Para tal, estuda a evolução da Aviação Policial e dos equipamentos embarcados, o processo de treinamento do piloto policial e os princípios que devem nortear um processo de formação de competências em área tecnológica.
Tem como problema a ser verificado se esta tecnologia está sendo adequadamente monitorada, aplicada e desenvolvida, dentro de princípios de gestão de inovação e formação de competências.
Busca validar a hipótese de que um processo de formação de pessoal tecnologicamente orientado aumenta a eficiência dos processos desenvolvidos pelo serviço aéreo policial, gerando ainda a possibilidade de acionamento de centros de produção nacional aptos a gerar conhecimento aplicável às necessidades, bem como a aplicação dos processos de treinamento em outras áreas profissionais que exijam operadores competentes em ambientes de rápida variabilidade de informações e de exigência de decisões efetivas.
A metodologia empregada baseia-se nos métodos hipotético-dedutivo e descritivo, com pesquisas bibliográficas a fontes nacionais e estrangeiras, organizações policiais e de defesa civil, além de análise de documentos e textos legais. Utiliza-se metodologia de pesquisa empírica, por tratar-se da avaliação e estudo de uma realidade determinada e focada na Aviação Policial brasileira, particularmente a paulista. Baseia-se em pesquisas dos processos de treinamento adotados pela Força Aérea e Exército Brasileiros, Polícias Inglesa e Americana, com dados coletados durante Curso de Aviação Policial, realizado no Reino Unido em 1997; Curso de Combate a Incêndios Florestais com uso de Aeronaves, realizado no Exército e Defesa Civil Franceses, em 2000, e Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em 2004
O recorte temporal do presente estudo abrange dos anos 1990 até hoje, sendo seu recorte espacial relativo às aviações policiais paulista, americana e inglesa, escolhidas pela sua representatividade no panorama mundial.
Foca o campo de investigação no Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar do Estado de São Paulo, mas sem deixar de buscar elementos comparativos com outras polícias aéreas nacionais e internacionais, produzindo comparações que permitam a evolução da presente realidade tecnológica, para a otimização dos recursos e de suas aplicações.
O trabalho foi estruturado em cinco capítulos. Os dois primeiros analisam a formação e evolução da aviação policial mundial e paulista, o início do uso do helicóptero e a criação de um sistema de policiamento aéreo preventivo. Analisam ainda a evolução da tecnologia embarcada, de modo a fazer o leitor familiarizado com as demandas de conhecimento envolvidas na missão compreender os aspectos tecnológicos que permeiam a operação dos pilotos policiais no cumprimento de suas missões.
O terceiro capítulo descreve a aviação policial na atualidade, também fazendo seu foco na polícia paulista e em algumas das principais polícias estrangeiras que fazem uso competente da aviação. Finaliza com a verificação que a busca pela qualidade é uma constante em qualquer trabalho desse porte, partindo desde os critérios da formação dos recursos humanos. O quarto detalha a formação do piloto policial na Polícia Militar do Estado de São Paulo, sua evolução no decorrer das últimas duas décadas e meia da existência recente da Aviação Policial Paulista e trata de alguns pontos entendidos fundamentais nas decisões de formação de pilotos, treinamento e segurança de vôo. O quinto aborda o referencial teórico que permeia todo o processo de formação de pessoal tecnologicamente capacitado a fim de atuar com competência em um ambiente de mudanças, alta demanda de decisões rápidas e baixa tolerância ao erro (que pode ser pago com a própria vida!).
Por fim, no sexto capítulo, considerações finais da dissertação, apontam-se possibilidades de pesquisas futuras e caminhos a seguir. Busca ainda transpor o conhecimento para outras áreas similares à aviação em termos de complexidade de formação de pessoal.
Como contribuições, tanto primárias como secundárias, busca esta dissertação: analisar a evolução, processo de decisão na aquisição, disponibilização e uso da tecnologia no policiamento com emprego de aeronaves; análise do processo de formação dos Pilotos que vão operar tais equipamentos e gerenciar seus processos; estimular comparações que permitam a evolução da presente realidade tecnológica, visando a otimização dos recursos e de suas aplicações; identificar práticas adotadas no uso da tecnologia embarcada na aviação policial nacional e estrangeira e seus processos de treinamento de pilotos, visando sistematização e proposição de procedimentos para a evolução do sistema; e permitir a transposição dos resultados para outros ramos de conhecimento tecnológicos que exijam processo de formação de quadros semelhante.
Faça aqui o download da monografia completa em formato PDF,
ou acesse o site do Centro Paula Souza