O plano de voo está traçado e é ambicioso: a Eurocopter – maior fabricante mundial de helicópteros civis e que atua também na área militar – quer transformar sua filial brasileira, a Helibras, em um ator internacional desse mercado até meados da próxima década. O objetivo da empresa europeia é desenvolver e produzir totalmente no Brasil aeronaves que serão exportadas para o mundo todo, disse ao Valor o presidente da Eurocopter, Lutz Bertling.
Dessa forma, o Brasil passará de quinto maior mercado global da companhia, atualmente, para terceiro em meados da próxima década, atrás apenas da França e da Alemanha e à frente dos Estados Unidos e da Austrália.
“O desenvolvimento de um helicóptero leva no mínimo dez anos. Em 2023 ou 2025 começaremos a ter modelos com design realizado no Brasil, fabricados no país e que serão vendidos ao mercado mundial”, afirma o alemão. Hoje, a concepção dos aparelhos é feita na Europa, onde também são fabricadas as peças. A unidade brasileira, em Itajubá (MG), realiza a montagem dos helicópteros Esquilo.
O Brasil é o único país dos BRICS, grupo integrado também pela Rússia, Índia, China e África do Sul, que não possui uma indústria de helicópteros, diz o presidente. A Eurocopter – que reúne capital francês, alemão e espanhol e é uma divisão do consórcio europeu EADS (controladora da Airbus) – “quer se tornar o fabricante nacional” de helicópteros no Brasil, diz Lutz.
Parte desse processo de nacionalização da produção começará a ser posto em prática em breve. A inauguração da nova fábrica em Itajubá, um investimento de € 186 milhões (R$ 426 milhões) está prevista para fevereiro ou março e o início das atividades deve ocorrer no final deste semestre.
O projeto de expansão da unidade mineira é resultado do contrato de venda de 50 helicópteros EC725 para as Forças Armadas do Brasil, concluído em 2008. O acordo prevê que as 16 primeiras aeronaves serão fabricadas na França (três já foram entregues) e as demais serão feitas no Brasil. O primeiro helicóptero EC725 totalmente montado no país poderá ser entregue no final deste ano.
O cronograma de entregas irá cumprir uma escala gradativa de nacionalização de componentes, como circuitos eletrônicos e parte da fuselagem, até atingir 50% de equipamentos nacionais em 2015. Até esse prazo, o número de empregados da filial brasileira deverá passar dos atuais 600 para mil. A Eurocopter também planeja reforçar a cooperação com os fornecedores brasileiros para o desenvolvimento de componentes no Brasil, fator essencial da estratégia de produzir modelos no país.
O futuro do mercado brasileiro é promissor para a Eurocopter. A empresa vê no país grandes negócios potenciais: a polícia (que anunciou o projeto de compra de mais de 100 helicópteros) e outros serviços públicos, como também o setor privado (canais de TV, por exemplo), estão investindo na compra de aeronaves em razão da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, afirma Bertling.
“Mesmo sem esses grandes eventos, o Brasil é um dos mercados de helicópteros com crescimento mais rápido no mundo”, diz ele, acrescentando que o excelente desempenho no Brasil se refere ao número de aeronaves vendidas. “Em termos de percentual de crescimento, alguns países asiáticos registram taxas maiores, mas a frota desses países ainda é muito pequena.”.
Os resultados da Eurocopter no Brasil só serão divulgados em fevereiro. A companhia, que possui 30 filiais e participações em 21 países, anunciou ontem, em Paris, um faturamento recorde no ano passado: € 5,4 bilhões, com crescimento de 12,5% das vendas.
A empresa entregou menos helicópteros (503 contra 527 em 2010), mas as encomendas (457 unidades em 2011), registraram aumento de 32% em relação ao ano anterior. Em 2012, a empresa prevê crescimento de 7% a 7,5% do faturamento, média dos últimos cinco anos. Até 2017, as vendas de helicópteros civis na Ásia deverão crescer 40% e, na América Latina, 35%, prevê Bertling.
A Eurocopter afirma que em 2011 passou a deter 43% do mercado mundial de helicópteros civis, onde é líder, e 21,5% do mercado militar desse tipo de aeronave.
Fonte: por Daniela Fernandes, para o Valor Econômico, de Paris.
Foto: Roberto Caiafa.