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Portugal – A utilização da Oxigenação por Membrana Extracorporal (ECMO) em doentes graves poderá contribuir para aumentar o número e a qualidade de órgãos para transplante em Portugal. A conclusão consta num estudo coordenado por Roberto Roncon de Albuquerque, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

O trabalho agora publicado confirma que esta técnica de circulação extracorporal desempenha um papel muito relevante na doação de órgãos de doador em parada circulatória controlada (Categoria III de Maastricht), nomeadamente de rim, de pulmão, de fígado e de coração, a nível mundial. A estimativa do estudo é que o transplante possa aumentar até 40%.

Roberto Roncon de Albuquerque, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Roberto Roncon de Albuquerque, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

“Estes resultados chamam a atenção para uma tecnologia que existe em muitos hospitais para salvar vidas, mas que ainda não é muito utilizada, entre nós, na vertente da doação de órgãos e do transplante. Em doentes que não conseguimos salvar, a ECMO pode ser utilizada para preservar os órgãos do dador que, de outra forma, não teriam condições para o transplante”, explicou Roberto Roncon.

Na prática, esta técnica, muito falada durante a pandemia de COVID-19, pode ajudar a aumentar o número de órgãos e de transplantes por várias vias. Em países como Espanha, Reino Unido e EUA, cerca de metade do transplante renal já é feita com recurso do ECMO nos dadores falecidos em cuidados intensivos por parada circulatória controlada.

Em Portugal, a utilização do ECMO está limitada aos dadores em parada circulatória não controlada (Categoria II de Maastricht), em que a parada cardiorrespiratória surge súbita e inesperadamente no pré-hospitalar ou no serviço de urgência, sem recuperação após manobras de ressuscitação prolongadas. É, tipicamente, o caso de alguns doentes com enfarte agudo do miocárdio socorridos pelo INEM que, apesar de todo o ‘esforço terapêutico’, acabam por evoluir em parada cardiorrespiratória refratária e falecer.

“Nestes casos, quando o óbito é declarado, podemos usar a ECMO para preservar os órgãos abdominais para transplante. No entanto, não pode decorrer mais de uma hora e meia de colapso até à entrada no hospital, nem mais de duas horas de colapso até ao início de ECMO”, salvaguarda. Na ULS de São João, onde é médico intensivista, a doação em parada circulatória não controlada já representa cerca de um terço do transplante renal.

Órgãos não são suficientes “para as necessidades”

De acordo com Roberto Roncon de Albuquerque, “o transplante em Portugal é dos melhores do mundo. No entanto, continuamos a ter um número insuficiente de órgãos para as necessidades. Temos muitos doentes em espera. No caso do rim, os doentes têm alternativas como a hemodiálise, mas quer a qualidade quer a esperança média de vida sem o transplante renal é pior. No caso do pulmão, do coração e do fígado, há doentes que acabam por falecer à espera de um órgão para transplante”.

Para o professor da FMUP, “no nosso país, a expansão da possibilidade de doação à parada circulatória controlada poderia representar um importante passo para responder a esta necessidade. Para tal será necessária uma alteração legislativa, que deve ser precedida de um amplo consenso na sociedade civil, sociedades científicas e ordens profissionais da área da Saúde”.

De acordo com o Instituto Português do Sangue e da Transplantação, Portugal ocupava, em 2023, o terceiro lugar a nível mundial em termos de transplantes, atrás do Brasil e dos EUA, e segundo lugar na Europa. No ano passado, foram colhidos 1066 órgãos e foram transplantados 963 órgãos. “Todos somos potenciais dadores, desde que não expressemos oposição à dádiva no Registo Nacional de Não Dadores (RENNDA)“, comentou.

Além de Roberto Roncon de Albuquerque, o trabalho de revisão sistemática da literatura científica contou ainda com a participação de Beatriz Ferreira Alves, no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina na FMUP, bem como de Joana Reis Pardal, Nelson Cuboia e Luís Azevedo (FMUP e RISE-Health).

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