Eduardo Marson Ferreira, presidente da Helibras, fabricante nacional de helicópteros, passou a administrar um problema que muitos executivos gostariam de ter em mãos. Em junho, a companhia já havia vendido 24 aeronaves, nove a mais do que em todo ano de 2009. Até a semana passada, as encomendas já haviam atingido 31 e as previsões apontam para 40 unidades comercializadas até o fim do ano.
Qual o problema em vender mais? Nenhum, não fossem os pedidos superiores à capacidade de produção da companhia que é de apenas 36 unidades por ano. “Nunca vendemos tanto na história”, diz Marson. “Com o aquecimento da economia, empresas de todos os setores estão comprando seus próprios helicópteros.”
Resultado: A Helibras, fruto de uma joint venture entre a francesa Eurocopter, o Governo do Estado de Minas Gerais e o Banco Bueninvest, deve encerrar 2010 com faturamento de US$ 200 milhões. Muito disso, é verdade, puxado pela aviação civil. Dados da Associação Brasileira dos Pilotos de Helicópteros (Abraphe) apontam que o mercado brasileiro de helicópteros civis, hoje na casa de 1255 unidades, tem crescido 10% enquanto no restante do mundo essa não passa de 3%.
Para resolver essa questão, desde o início de setembro, a companhia começou a trabalhar com um segundo turno e a contratar novos funcionários. O quadro de 280 profissionais deverá ser ampliado para 500 até o fim de 2010. Em 2012, diz Marson, o número baterá na casa dos 1 mil empregados.
Afinal, a empresa se prepara para subir de altitude embalada, principalmente, pelos negócios do pré-sal. Os modelos vendidos pela empresa custam entre US$ 2,2 milhões e US$ 17 milhões. E, para continuar atendendo a demanda corporativa, seus executivos traçaram um minucioso plano de voo.
Em 2008, a Helibras fechou um contrato estimado em R$ 3 bilhões para vender 50 helicópteros para as Forças Armadas do Brasil. Para entregá-los, porém, a companhia precisava ampliar a linha de produção e anunciou investimentos de 350 milhões de euros na construção de uma nova fábrica em Itajubá (MG), ao lado de sua atual linha de produção, mas com o dobro do tamanho.
“Com esses investimentos e a ampliação da capacidade produtiva, a Helibras está entrando definitivamente para o clube dos maiores fabricantes mundiais”, diz Ferreira. É exatamente com a experiência adquirida em aeronaves de alto valor agregado que a fabricante pretende ganhar altitude e se distanciar das concorrentes.
A companhia deverá aproveitar a nova linha de produção para adaptar os grandes modelos bélicos às necessidades de algumas empresas como a Petrobras. A estatal usa helicópteros no transporte entre o continente e as plataformas de petróleo e necessita de grandes aeronaves para os trajetos.
Serão equipamentos que comportam até 19 pessoas e custaram mais de US$ 10 milhões cada. Esse novo modelo civil de grande porte que será produzido na futura planta é o que deve garantir mais participação de mercado à empresa. “O setor petrolífero é o que está mais aquecido e certamente crescerá ainda mais.
Nenhum outro meio de transporte consegue suprir a necessidade da cadeia offshore, apenas os helicópteros”, afirma Cleber Mansur, presidente da Abraphe. Mansur, entretanto, lembra que o segmento corporativo mantém uma forte média de crescimento que tem sido constante.
“A cidade de São Paulo, por exemplo, já conta, sozinha, com cerca de 480 helicópteros”, diz. “É a maior frota do mundo. Ela passou Nova York em cerca de 100 aeronaves há mais de um ano atrás”, diz. Outro forte setor de atuação da empresa, que deve ser ampliado nos próximos anos, é a chamada “Aviação de Segurança Pública”, ou seja, defesa civil, bombeiros e polícia — para o qual a Helibras é responsável por cerca de 80% das encomendas nacionais.
Essas organizações têm investido cada vez mais em suas frotas já se preparando para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, quando os helicópteros serão muito utilizados. No ano passado, esse segmento de segurança pública foi responsável por nove unidades encomendadas.
Esse ano, diz Marson, outras sete já foram solicitadas e mais pedidos devem ser feitos. Dentre eles, o modelo mais vendido é o “Esquilo”, que custa, em média US$ 3 milhões. “Nesse segmento somos imbatíveis porque temos o que eu chamo de ‘custo Helibras’”, diz o presidente da fabricante, ao se referir à vantagem de ser a única com fábrica no País. Aliás, isso é crucial para a empresa.
Por manter uma relação estreita com o governo e as Forças Armadas, que a auxilia na formação da cadeia de fornecedores, a companhia consegue reduzir seus custos com peças – geralmente importadas. Hoje, são 20 fornecedores localizados no Sudeste e no Sul do País. Dentro de quatro anos, esse número deve dobrar.
Isso permitirá que os executivos da Helibras concretizem um antigo sonho: criar um modelo 100% nacional, desde o projeto até a fabricação, no prazo de dez anos. Mas não é tão fácil quanto parece. O Brasil carece de mão de obra especializada e, para formar profissionais qualificados, desde 2008 a companhia tem um convênio com três universidades do País que formam engenheiros aeronáuticos: o ITA, a USP e, mais recentemente, a Universidade Federal de Itajubá. Os melhores alunos ganham estágios na francesa Eurocopter. “A Helibras precisa mesmo, desde já, pensar no futuro.
Os profissionais são escassos nessa área e o tempo de dez anos para a maturação de um projeto 100% nacional é curto para prepará-los adequadamente”, diz o professor Fernando Catalano, coordenador do curso de engenharia aeronáutica da USP de São Carlos. Correr contra o tempo parece ser a especialidade da empresa.