De repente…

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NÁDIA TEBICHERANE

Ele já salvara muitas vidas. Quando entrava no helicóptero, seu instrumento de trabalho, só pensava na missão. Um tipo de dispositivo era ativado dentro dele. Calculava, planejava, era frio e preciso. Repassava todos os detalhes e escolhia o caminho com menos chances de erros.

Só acreditava em si mesmo e naquela máquina. Gostava de trabalhar sozinho. A frase que mais usava com os colegas de missão era: ”Deixa comigo, já está tudo calculado”.

Voltava de uma missão de rotina. Sobrevoava um rio extenso e caudaloso.

De repente, como tudo na vida, o helicóptero começa a perder altitude, algo estava muito errado. O alarme soou dentro de cada tripulante. Ele checou automaticamente cada instrumento. Onde estava a pane?

A situação ficou crítica. A aeronave começou a rodopiar e o choque com o rio foi inevitável e violento.

A água invadia o helicóptero com uma rapidez espantosa. Ele olhou os companheiros que já estavam se livrando do cinto de segurança e saindo do helicóptero. Desafivelou-se e deixou-se levar pela correnteza fortíssima. Sua cabeça doía e rodava.

O que dera errado? Onde ele falhara? Afundava e retornava, engolia água. Ia se afogar, ia morrer.

Olhou uma última vez para as margens do rio, uma muito distante da outra e ele bem no meio.

De repente, como tudo na vida, sentiu o braço forte do barqueiro. Nesse momento, perdeu a consciência. Mais tarde, quando acordou na margem do rio, olhou o homem de meia idade que o havia salvo. Instantaneamente, lembrou-se de tudo. Encarou o barqueiro e disse:

– Não sei o que deu errado, eu chequei tudo várias vezes…

– Ninguém consegue saber de tudo, moço. A vida tá sempre esperando a gente com uma surpresa. Ainda bem que tem muita gente pra ajudar – O barqueiro falou com simplicidade.

– Eu sou um homem que não gosta de surpresas e só conto comigo.

– Olha moço, diz a lenda que quando um homem atravessa um rio, nem ele nem o rio são mais os mesmos. Espero que agora o senhor seja um outro homem.

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